Atividade

100363 - Abril FFLCH 2021 - Cinema brasileiro moderno: cultura e política, 1963-1969

Período da turma: 26/04/2021 a 30/04/2021

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Descrição: Aula 1 (26/04): Imagens do Sertão (Vidas secas – Os fuzis – Deus e o diabo na terra do sol)
Esta aula trata da tríade canônica que permitiu a consolidação do Cinema Novo no campo cinematográfico brasileiro. Os três filmes em questão – Vidas secas (Nelson Pereira dos Santos, 1963), Os fuzis (Ruy Guerra, 1963) e Deus e o diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964) – foram realizados no período imediatamente anterior ao golpe civil-militar de 1964, contexto de ampla politização que não deixou de marcar essa produção. Assim, ao lado da vinculação com determinados protocolos de abordagem da realidade brasileira (a ênfase no sertão, por exemplo), trata-se de analisar o significado dessa produção na trajetória de seus diretores, bem como articular determinadas escolhas estéticas (a fotografia, a dramaturgia, a banda sonora) aos dilemas políticos que se colocavam no momento. Por fim, essa produção será analisada à luz dos problemas que se colocaram a respeito de sua articulação com o público brasileiro e com o circuito internacional de festivais.

Aula 2 (27/04): Imagens da derrota (O desafio – Terra em transe – O bravo guerreiro – A opinião pública)
O otimismo do governo João Goulart rapidamente se esvaiu com o golpe de 1964 e realizadores do Cinema Novo passaram à revisão autocrítica do projeto nacional-popular derrotado. Esta aula comentará a segunda tríade do movimento: O desafio (Paulo César Saraceni, 1964), Terra em transe (Glauber Rocha, 1967) e O bravo guerreiro (Gustavo Dahl, 1968). Tais filmes tematizaram dilemas internos de seus realizadores, refletindo amargamente sobre o papel do intelectual engajado nos erros que levaram ao golpe. A aula comentará também o documentário A opinião pública (Arnaldo Jabor, 1966), que reflete sobre a experiência da derrota por meio de um mergulho na alienação brasileira (tanto da classe média quanto das classes populares). Por fim, a aula abordará o contexto de transformações culturais no qual esses filmes se inserem. Um momento em que o otimismo deu lugar à melancolia e os parâmetros de engajamento artístico foram repensados por novos movimentos de vanguarda em áreas como a canção e o teatro (Tropicalismo, Teatro Oficina etc.).

Aula 3 (28/04): Um cinema paulista moderno? (Noite vazia – São Paulo SA. – O caso dos irmãos Naves)
Esta aula propõe um contraponto em relação ao peso excessivo conferido ao Cinema Novo na constituição do cinema brasileiro moderno. Para tanto, trata-se de analisar obras de dois diretores paulistas ativos nos anos 1960. Em primeiro lugar, trata-se de comentar o filme Noite vazia (Walter Hugo Khouri, 1964), com o objetivo de destacar a particularidade da trajetória de Khouri no cenário brasileiro. Considerando seus protocolos formais e temáticos (um cinema urbano, que prioriza o trabalho em estúdio), é interessante notar o desenvolvimento de uma obra que estabelece um contraponto com o Cinema Novo no momento mesmo em que este sinalizava a prioridade das imagens relativas ao mundo rural brasileiro. Num segundo momento, trata-se de analisar os filmes São Paulo SA. (Luiz Sérgio Person, 1965) e O caso dos irmãos Naves (Luiz Sérgio Person, 1967) com o objetivo de notar a inserção muito específica de Person em relação a problemas como a vinculação com o público, os protocolos formais incorporados nos filmes, a figuração da burguesia e do operariado e, por fim, o diálogo com os problemas políticos da atualidade.

Aula 4 (29/04): Imagens do lixo e da desordem (A margem – O Bandido da Luz Vermelha)
No pós-golpe, o cinema brasileiro moderno assistiu ao surgimento de outra vertente estético-ideológica, o chamado Cinema Marginal, ao mesmo tempo herdeiro e dissidente do Cinema Novo. Esta aula abordará os primórdios desse fenômeno a partir de dois filmes: A margem (Ozualdo Candeias, 1967) e O bandido da luz vermelha (Rogério Sganzerla, 1968). O filme de Candeias é um marco relevante nesse contexto, seja devido à forma de produção empregada, seja devido ao tratamento dado às imagens do espaço urbano. Já o Bandido mescla a radicalização de procedimentos do cinema moderno e a tradição das chanchadas e apresenta a trajetória de um anti-herói – criminoso, porém cativante – em uma metrópole corrupta e apocalíptica. A aula abordará ainda os intensos debates travados entre cinemanovistas e marginais na virada para a década de 1970, expressões de novas polarizações no campo cultural brasileiro em torno da experimentação artística, da relação com a indústria cultural e com o Estado e da emergência da contracultura no Brasil.

Aula 5 (30/04): Imagens de tragédia e carnaval (O padre e a moça – Macunaíma)
Esta aula analisará dois longas-metragens realizados por Joaquim Pedro de Andrade após o golpe civil-militar de 1964: O padre e a moça (1966) e Macunaíma (1969). Ambos dialogam com a tradição modernista brasileira ao adaptarem, respectivamente, um poema de Carlos Drummond de Andrade (do livro Lição de coisas, de 1962) e o romance canônico de Mário de Andrade de 1929. E ambos encenam, cada qual à sua maneira, tragédias, através das quais é possível vislumbrar uma revisão de projetos defendidos no pré-golpe. No intimista e silencioso O padre e a moça, o interior rural do Brasil não é mais espaço mítico da utopia, mas símbolo de arcaísmo e conservadorismo homicida. Já Macunaíma traz a rapsódia modernista para o cotidiano dos anos 1960 em uma atmosfera que dialoga com as comédias carnavalescas, contrastando com o desfecho trágico de seu protagonista. A aula buscará entender o projeto do realizador, de um filme ao outro, face às novas demandas culturais e políticas que marcavam o Brasil naquele momento.

Bibliografia
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________. O cinema brasileiro moderno. São Paulo: Paz & Terra, 2006.
________. Sertão-mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Editora 34/Duas Cidades, 2019.

Carga Horária:

12 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 80
 
Ministrantes: Luiz Octavio Gracini Ancona
Victor Santos Vigneron de La Jousselandiére


 
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