Atividade

100432 - Abril FFLCH 2021 - Mulheres negras e a representação de seus amores na canção e na Literatura de Língua Portuguesa

Período da turma: 14/04/2021 a 28/04/2021

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Descrição: Encontro 1: Apresentação do curso e Introdução à perspectiva dos Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa
(todas as ministrantes)
Com a emergência e o reconhecimento de novos sujeitos autorais e novas perspectivas críticas no campo da literatura e da música brasileiras é possível observar também novos paradigmas de representação de fenômenos artísticos queer e negros/afrodescendentes. Essa observação pode ser realizada sob diversas perspectivas. Os Estudos Comparados de Literatura, enquanto perspectiva teórica e metodológica do curso, têm recorrido a procedimentos e objetos de estudo contemporâneos como forma de traçar diálogos multi e transdisciplinares com novas formas artísticas e novas epistemologias que são capazes de compreender fenômenos emergentes na literatura, como o caso da representação dos corpos marcados por vetores como raça, gênero e classe.
Desse modo, o primeiro encontro do curso tem como objetivo demonstrar de que maneira as novas perspectivas da crítica literária, em conjunto com estudos de diversas áreas, como as vertentes do Feminismo Negro e Interseccional, a História e a Educação, podem proporcionar discussões que dialogam com as mais variadas esferas sociais promovendo importantes reflexões que abrangem mais que a pesquisa e o ensino de literatura, promovem o (re)conhecimento de si como sujeito imerso nesta cultura brasileira, e, a partir disso, o questionamento das representações dos sujeitos nessa cultura tão ampla e diversa.

Referências:
AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. Coleção Feminismos Plurais. RIBEIRO, Djamila (coord.). São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.
CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada: a estratégia interdisciplinar. Revista Brasileira de Literatura Comparada, Niterói: Abralic, n. 1, p. 9-21, 1991.
____________; COUTINHO, Eduardo (Orgs.). Literatura comparada: textos fundadores. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
CAVALCANTE, B.; STARLING, H. M. M.; EISENBERG, J. Apresentação. In: Decantando a República, vol. 1: Inventário histórico e político da canção popular moderna brasileira. Rio de Janeiro/São Paulo: Nova Fronteira/Fundação Perseu Abramo, 2004.
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução: Jamille Pinheiro Dias. São Paulo: Boitempo, 2019.
CRENSHAW, Kimberle. “A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero”. In. Cruzamento: raça e gênero, Painel 1, p. 7-16. Disponível em: https://nesp.unb.br/popnegra/index.php/biblioteca/2-genero-raca-e-saude/5-a-intersecionalidade-na-discriminacao-de-raca-e-genero Acesso em 13 fev 2021.
DALCASTAGNÈ, Regina. A crítica literária em periódicos brasileiros contemporâneos: uma aproximação inicial. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, Brasília: UBN, n. 54, p. 195–209, 2018.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenções e diálogos. Org. Flávia Rios e Márcia Lima. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
INÁCIO, Emerson. Novas perspectivas para o Comparatismo Literário de Língua Portuguesa: as séries afrodescendentes. Revista Crioula, n.23, p.11-23, 2019.
STARLING, Heloísa M. Murgel. Convite para fantasia de um violão: as canções de Chico Buarque, as histórias de João Guimarães Rosa. In: DUARTE, Paulo S.; NAVES, Santuza C. Do samba-canção à tropicália. Rio de Janeiro: Relume Dumará/FAPERJ, 2003.
TATIT, Luiz. O século da canção. 2ª edição. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.

Encontro 2: As juras de amor – entre a ingenuidade e a vingança em um conto machadiano e em canções brasileiras

Estefânia de Francis Lopes – Doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela FFLCH/USP. Contato: estefaniaestephan@gmail.com

O tema sobre juras de amor está presente na literatura desde os clássicos, como Shakespeare, até os contos e romances modernos. O juramento, em geral, não cumprido, também está presente nas letras de canções brasileiras, entre as quais, podemos evocar como exemplos, “Jura”, de Sinhô, gravada em 1928, por Mário Reis e “Aos pés da cruz”, de Zé da Zilda e Marino Pinto, conhecida nas interpretações de Orlando Silva (1942) e João Gilberto (1959), sendo depois regravadas por tantos outros intérpretes.
O ponto de partida desse encontro é o diálogo, por nós estabelecido, entre o conto “Noite de Almirante” (1884), de Machado de Assis, e a canção “Vingança” (1936), de Francisco Mattoso e José Maria de Abreu. O juramento, como força absoluta na crença humana de que a vontade está acima do tempo e do destino, é um elemento em comum entre as obras.
Dessa forma, buscaremos explorar, a partir das análises do conto e da letra da canção como a ingenuidade, o engano e, por vezes, a vingança, emergem de narrativas nas quais o tema é a jura de amor. Procuraremos também destacar como o papel feminino é engendrado pelos autores e como essas personagens atuam nas tramas em que o juramento é rompido. Nossa análise tem como base a Literatura Comparada como “uma prática intelectual que, sem deixar de ter no literário o seu objeto central, confronta-se com outras formas de expressão cultural” (CARVALHAL, 1991, p. 13).
Durante o encontro incluiremos a análise do conto de Machado de Assis e da canção “Vingança”, na interpretação de Mônica Salmaso, e outras letras do cancioneiro da música popular brasileira que apresentam o mesmo enfoque. Assim, além da análise literária, por assim dizer, propomos também a audição das canções como fruição estética.

Links e sites consultados:
- Para acesso ao conto “Noite de Almirante”: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1916. Acesso em: 13 fev 2021.
- Para acesso à letra da canção “Vingança”: http://www.letras.com.br/francisco-matoso/vinganca
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira: http://dicionariompb.com.br
MPB Cifrantiga: http://cifrantiga.blogspot.com.br. Acesso em: 13 fev 2021.

Referências bibliográficas:
ASSIS, Machado de. Histórias sem data. São Paulo: Ed. Ática, 1998.
BOSI, Alfredo. Machado de Assis: o enigma do olhar. 4ª edição – São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007.
CARVALHAL, Tania Franco. Literatura comparada: a estratégia interdisciplinar. Revista Brasileira de Literatura Comparada, Niterói: Abralic, n. 1, p. 9-21, 1991.
GUIDIN, Márcia Lígia. “A felicidade será um par de botas?”. In. Histórias sem data. São Paulo: Ed. Ática, 1998.

Encontro 3: A representação da experiência religiosa da mulher negra na poesia e na canção afro-brasileira

Oluwa Seyi Salles Bento - Doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela FFLCH/USP. Contato: oluwaseyi@usp.br

No terceiro encontro, teremos com principal objetivo indagar a representação da espiritualidade negro-feminina em produções poéticas e cancionais. Tal ênfase corresponde à presença importante e produtora de sentidos da experiência religiosa em obras de autoria negra, de modo a iluminar e a valorizar a cultura afro-brasileira. Essa espécie de lugar-comum que a religiosidade negra toma em certas obras, é perceptível na produção das poetas Elisa Lucinda, Lívia Natália e Valéria Lourenço e das intérpretes Fabiana Cozza, Mariene de Castro e Serena Assunção.
Com vistas nos significados artísticos que são construídos a partir da experiência religiosa de matriz africana, lançaremos mão de análises comparativas de poemas e letras de canções das referidas poetas e compositoras/cantoras, buscando compreender os sentidos almejados pela mobilização do imaginário acerca de três orixás femininos - Iansã, Iemanjá e Oxum.
Na medida em que cada divindade do panteão afro-brasileiro traz em si uma série de símbolos e responde por domínios naturais, humanos, físicos e abstratos, nos interessa compreender e apontar de que maneira as representações desses orixás femininos - comumente nomeados de “iabás” - são apropriadas pelas artes.

Links e sites consultados:
Para acesso à canção “Filhas de Iemanjá”, de Fabiana Cozza: https://youtu.be/rqKLSW6UJxY . Acesso em 13 fev 2021.
Para acesso à letra da canção “Tirilê”, de Mariene de Castro: https://m.letras.mus.br/mariene-de-castro/tirile/. Acesso em 13 fev 2021.
Para acesso à letra da canção “Oxum”, de Serena Assumpção: https://m.letras.mus.br/serena-assumpcao/oxum/.Acesso em 13 fev 2021.
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira: http://dicionariompb.com.br

Referências bibliográficas:

LIMA, Luís Felipe de. Oxum. Pallas: Rio de Janeiro, 2012.
LOURENÇO, Valéria. Cartaougrafia de Oxum. In: CADERNOS Negros 37, Quilombhoje editora: São Paulo, 2007.
LUCINDA, Elisa. Oyá. In:_. Vozes guardadas. Rio de Janeiro: Editora Record, 2016.
NATÁLIA, Lívia. Estudo marinho. In:_. Correntezas e outros estudos marinhos. Salvador: Edição da autora, 2020.
THEODORO, Helena. Iansã. Rio de Janeiro:Pallas, 2010.
VALLADO, Armando. Iemanjá. Rio de Janeiro: Pallas, 2019.



Encontro 4: Representações contemporâneas – A heterossexualidade contestada e o Amor entre mulheres negras no álbum visual Bom mesmo é estar debaixo d’água de Luedji Luna (2020) e seus contatos com a obra de Conceição Evaristo, Cidinha da Silva e Tatiana Nascimento

Claudiana Gois dos Santos – Doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela FFLCH/USP. Contato: claudiana_gois@usp.br

No quarto encontro o objetivo é analisar como os personagens e vozes poéticas perpassados pela marcação de mulher, lésbica e negra e seus afetos têm sido representados pela música nacional a partir de canções que evocam o reconhecimento da descolonização dos corpos e de seus afetos e da reestruturação identitária destas mulheres. Para tanto, nosso objeto principal de estudo será o álbum visual Bom mesmo é estar debaixo d'água, de Luedji Luna (2020) e a relação dele com a poesia de Conceição Evaristo e de Tatiana Nascimento.
Ao assistir o álbum visual na íntegra é possível observar um arco narrativo que comporta um percurso de representação de mulheres negras, queer/cuir, perpassada pela desconstrução dos ideais de amor romântico e das perspectivas de outras formas de afeto que destoam de um ideal heterocentrado, branco e eurocêntrico.
As sete canções (e seus respectivos vídeos), quase todas compostas por Luedji Luna, formam, portanto, um interessante e atualíssimo material de análise para pensarmos as questões da representação dos amores de mulheres negras na música e nas poesias que intercalam as faixas do álbum, incluindo a participação da escritora Cidinha da Silva na composição da faixa “Lençóis”.
O conteúdo político traçado pelos diálogos com a obra de Soujourney Truth e Nina Simone, amparado pela discussão da representação de corpos negros na arte e na mídia trazido pelas obras de bell hooks e Lélia González nortearão nossas discussões sobre amor e representação na música e na literatura.
Link consultado:
Para acesso ao álbum visual Bom mesmo é estar debaixo d’água, Luedji Luna (2020) https:// www.youtube.com/watch?v=Z7lPX61UdJ4. Acesso em 13 fev 2021.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. IN: RIOS, Flávia, LIMA, Márcia (orgs). Por um feminismo afro-latino-americano: Ensaios, intervenções e diálogos. p. 75-93. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
hooks, bell. Olhares negros: raça e representação. São Paulo: Elefante, 2019.
________.Tudo sobre amor: novas perspectivas. São Paulo: Elefante, 2020.
INÁCIO, Emerson. Novas perspectivas para o Comparatismo Literário de Língua Portuguesa: as séries afrodescendentes. Revista Crioula, n.23, p.11-23, 2019.
LORDE, Audre. Irmã Outsider. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
NASCIMENTO, Tatiana. Cuírlombismo literário. São Paulo: N-1, 2019.

Encontro 5: Multiplicidade cultural na formação linguística do repertório de alunos de Ensino Fundamental II e Médio através do letramento literário e étnico-racial: as imagens criadas do sujeito negro na intertextualidade entre literatura e músicas de matriz afro-brasileira.
Cíntia Ribeiro da Rocha - Mestranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela FFLCH/USP. Contato: cintia.ribeiro@usp.br
As competências leitora e escritora previstas na Base Nacional Curricular Comum (BNCC) como habilidades fundamentais para a formação de um cidadão crítico e reflexivo, requerem o trabalho e o desenvolvimento de habilidades que estão incluídas no processo de construção do letramento ao longo da educação básica. Assim como a sociedade e as condições de produção da comunicação humana em diferentes esferas, inclusive artísticas, nesse trânsito de informações, os procedimentos de decodificação de diferentes textos (escritos, orais ou imagéticos) também são reconfigurados. Contemporaneamente, letramento é um termo que pode ser tratado no plural devido à sua prática multifacetada.
Dessarte, Rildo Cosson (2006) faz apontamentos necessários na prática docente da educação básica para a escolarização da literatura, ou seja, a análise e decodificação além da criação de hipóteses sobre as obras literárias, de modo distinto do exercício da leitura por fruição que também está atrelada no processo como algo subjacente. Em uma perspectiva de estudos sobre a formação do povo brasileiro e sua base multicultural, o letramento étnico-racial pode ser acrescido na formação do leitor crítico com o objetivo de se identificar a subjetividade afro-brasileira nos processos de ficcionalização e musicalização de suas tramas e simbologias pautadas na ancestralidade, religiosidade tanto quanto outros componentes civilizatórios da matriz cultural supracitada.
Para tanto, serão analisadas em cotejo, a obra “Os Nove Pentes D’África” de Cidinha da Silva e o repertório musical de Fabiana Cozza.
Referências Bibliográficas
ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricity - The Theory of Social Change. Chicago: African American Images, 2003.

DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira, In: Terceira Margem • Rio de Janeiro • Número 23 • p. 113-138 • julho/dezembro 2010.

SILVA, Vagner G - Candomblé e Umbanda - Caminhos da Devoção Brasileira. São
Paulo, Selo Negro, 2005, 5a ed.

SILVA, Cidinha da. Os Nove Pentes D’África. São Paulo, Mazza, 2009.

________________ – “Religiões afro-brasileiras. Construção e legitimação de um campo do saber acadêmico (1900-1960)”. In: Revista USP. São Paulo, USP-CCS, n. 55,
2002 (pp. 82-111)
VÁRIOS AUTORES. Reflexões sobre a literatura afro-brasileira. São Paulo: Quilombhoje, 1985.

Carga Horária:

10 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 60
 
Ministrantes: Cíntia Ribeiro da Rocha
Claudiana Gois dos Santos
Estefânia de Francis Lopes
Oluwa Seyi Salles Bento


 
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