59052 - Oficina de Criação Poética (a partir de formas fixas) |
Período da turma: | 09/04/2014 a 02/07/2014
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Descrição: | OFICINA DE CRIAÇÃO POÉTICA
a partir de formas fixas Coordenador: Carlos Felipe Moisés Duração: 12 (doze) encontros semanais de 2 (duas) horas cada 2º semestre de 2013 1. Noções básicas: as sílabas gramaticais e as captadas pelo ouvido; a elisão; a distribuição de tônicas e átonas (comparação com as longas e breves da prosódia latina); a noção de “células métricas”; a cesura e os acentos; o compasso e o ritmo. 2. Principais tipos de verso: o redondilho (5 ou 7 sílabas); o decassílabo; o alexandrino. Primeiro exercício: acróstico. (Os participantes entregarão na semana seguinte cada qual o seu acróstico, sendo que o nome-chave deve ter no mínimo quatro letras.) 3. As células métricas e as unidades sintáticas; o enjambement ou encadeamento; a estrofe e o parágrafo. Principais tipos de estrofe: dístico, terceto, quadra, sextilha, oitava. (Cada participante entregará na semana seguinte um terceto e uma quadra.) 4. Análise dos acrósticos entregues na semana anterior. A sextilha: estrofe de 6 versos. Exemplo: “Chão de estrelas” (Sylvio Caldas e Orestes Barbosa). (Na semana seguinte, cada participante entregará uma sextilha.) 5. Análise das estrofes entregues na semana anterior. A composição tipo “mote e voltas”. Exemplo: “Sem vós e com meu cuidado” (Camões). (Os participantes entregarão na semana seguinte “voltas” ao “mote” extraído de Drummond – v. Textos). 6. Análise das sextilhas entregues na semana anterior. O soneto: histórico, formato(s), variações. Análise do “Soneto da Hora Final” (Vinícius de Moraes). (Cada participante entregará um soneto na semana seguinte.) 7. Análise das “voltas” ao “mote” de Drummond, entregues na semana anterior. 8. Continuação. Ponto-de-vista: o “eu” e o “não-eu”. Análise de “Imitação da água” (João Cabral – v. Textos). Exercício a ser entregue na semana seguinte: “reescrever” o poema de João Cabral, adotando o ponto-de-vista da mulher (forma livre). 9. Análise dos sonetos entregues na semana anterior. 10. Continuação. 11. Análise e comentários dos poemas de forma livre, criados a partir do poema de João Cabral. 12. Continuação da análise dos poemas de forma livre. Discussão de questões propostas pelos participantes. TEXTOS a serem utilizados nas análises e nos exercícios Versos de 5 sílabas (redondilho menor) Não chores, meu filho, não chores que a vida é luta renhida. Viver é lutar. (Gonçalves Dias) Versos de 7 sílabas (redondilho maior) Estava à toa na vida o meu amor me chamou pra ver a banda passar cantando coisas de amor. (Chico Buarque) Versos decassílabos A noite vem do mar cheirando a cravo, em cima do dragão vem a sereia, o mar espuma como um touro bravo e como um cão morde a brilhante areia. (Sosígenes Costa) Versos alexandrinos Amas. Um novo sol apontou no horizonte, E ofuscou-te a pupila e iluminou-te a fronte... (Olavo Bilac) Através de teu luto as estrelas meditam Maravilhosamente e vaporosamente. (Cruz e Sousa) Dístico Era tão claro o dia, mas a treva, Do som baixando, em seu baixar me leva Pelo âmago de tudo, e no mais fundo Decifro o choro pânico do mundo... (Carlos Drummond de Andrade) Terceto Estes meus tristes pensamentos vieram de estrelas desfolhadas pela boca brusca dos ventos? Nasceram das encruzilhadas, onde os espíritos defuntos põem no presente horas passadas? Originaram-se de assuntos pelo raciocínio dispersos, e depois na saudade juntos? (Cecília Meireles) Quadra Bateram à minha porta, fui abrir, não vi ninguém. Seria a alma da morta? Não vi ninguém, mas alguém entrou no quarto deserto e o quarto logo mudou. Deitei-me na cama, e perto da cama alguém se sentou. (Manuel Bandeira) Sextilha A porta do barraco era sem trinco Mas a lua furando o nosso zinco Salpicava de estrelas nosso chão. Tu pisavas nos astros distraída, Sem saber que a ventura desta vida É a cabrocha o luar e o violão. (Sylvio Caldas e Orestes Barbosa) Oitava Tu só, tu, puro Amor, com força crua, Que os corações humanos tanto obriga, Deste causa à molesta morte sua, Como se fora pérfida inimiga. Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga, É porque queres, áspero e tirano, Tuas aras banhar em sangue humano. (Camões) Mote e voltas Sem vós e com meu cuidado, Olhai com quem, e sem quem. Amor, cuja providência foi sempre que não errasse, porque na alma vos levasse, respeitando o mal de ausência quis que em vós me transformasse. E vendo-me ir maltratado, eu e meu cuidado sós, proveio nisso, de atentado, por não me ausentar de vós, sem vós e com meu cuidado. Mas nesta alma que eu trazia porque vós nela morais, deixa-me cego e sem guia; que há por melhor companhia ficar onde vós ficais. Assi me vou de meu bem onde quer a forte estrela, sem alma, que em si vos tem, co mal de viver sem ela: olhai com quem, e sem quem. (Camões) [Para o exercício: “mote” extraído de Carlos Drummond de Andrade] Vai-me a vista assim baixando ou a terra perde o lume? Dos cem prismas de uma joia, quantas há que não presumo? Soneto Será assim, amiga: um certo dia, estando nós a contemplar o poente, sentiremos no rosto, de repente, o beijo leve de uma aragem fria. Tu me olharás silenciosamente e eu te olharei também, com nostalgia. e partiremos, tontos de poesia, para a porta de treva aberta em frente. Ao transpor as fronteiras do Segredo, eu, calmo, te direi: – Não tenhas medo, e tu, tranquila, me dirás: – Sê forte. E como dois antigos namorados noturnamente tristes e enlaçados nós entraremos nos jardins da morte. (Vinícius de Moraes) João Cabral de Melo Neto: “Imitação da água” De flanco sobre o lençol, paisagem já tão marinha, a uma onda deitada, na praia, te parecias. Uma onda que parava ou melhor: que se continha, que contivesse um momento seu rumor de folhas líquidas. Uma onda que parava naquela hora precisa em que a pálpebra da onda cai sobre a própria pupila. Uma onda que parara no dobrar-se, interrompida, que imóvel se interrompesse no alto de sua crista e se fizesse montanha (por horizontal e fixa), mas que ao se fazer montanha continuasse água ainda. Uma onda que guardasse na praia cama, finita, a natureza sem fim do mar de que participa, e em sua imobilidade, que precária se adivinha, o dom de se derramar que as ondas faz femininas, mais o clima de águas fundas, a intimidade sombria e certo abraçar completo que dos líquidos copias. BIBLIOGRAFIA MÍNIMA As indicações abaixo refletem o reduzido interesse, nas últimas décadas, pela metrificação tradicional. São quase todos títulos antigos, há muito esgotados, só dois deles reeditados mais recentemente: o de Said Ali e o de S. Spina. Notável exceção é o trabalho de Glauco Mattoso (poeta contemporâneo), cuja primeira edição é de 2010. Os interessados em aprofundar seu conhecimento na matéria precisarão recorrer a uma boa biblioteca. ALENCAR, Mário de – Dicionário das rimas portuguesas precedido de Tratado Completo de Versificação. Rio de Janeiro, H. Garnier, s.d. ALI, M. Said – Versificação portuguesa. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1999. BANDEIRA, Manuel – “A versificação em língua portuguesa”, in Enciclopédia Delta-Larousse. Rio de Janeiro, Editora Delta, 1960, tomo VI. BILAC, Olavo e PASSOS, Guimaraens – Tratado de versificação: A poesia do Brasil, A métrica, Gêneros literários (9ª ed.). Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1949. CARVALHO, Amorim de – Tratado de versificação portuguesa. Lisboa, Portugália, 1965. CASTILHO, Antônio Feliciano de – Tratado de metrificação portuguesa. Lisboa, s.c.e., 1908. CHOCIAY, Rogério – Teoria do verso. São Paulo, McGraw-Hill, 1974. MATTOSO, Glauco – Tratado de versificação. São Paulo, Annablume, 2010. MOISÉS, Carlos Felipe – “O verso livre ou O anfíbio alado” in Tradição e ruptura: o pacto da transgressão na literatura moderna. Vila Velha, Opção Editora, 2012, pp. 93-111. NÓBREGA, Mello – Rima e poesia. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1965. PROENÇA, M. Cavalcanti – Ritmo e poesia. Rio de Janeiro, Organização Simões, 1955. RAMOS, Péricles Eugênio da Silva Ramos – O verso romântico e outros ensaios. São Paulo, Conselho Estadual de Cultura, 1959. SPINA, Segismundo – Na madrugada das formas poéticas. São Paulo, Ateliê Editorial, 2002. |
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Carga Horária: |
24 horas |
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Tipo: | Obrigatória | ||||
Vagas oferecidas: | 30 | ||||
Ministrantes: |
Carlos Felipe Moises |
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