64774 - Poesia e filosofia na Renascença italiana |
Período da turma: | 09/04/2015 a 30/04/2015
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Descrição: | Jonathan Molinari (Pesquisador USP-Fapesp)
O objetivo do curso é investigar como na Renascença o debate sobre os diferentes modelos de racionalidade e sobre os diferentes discursos filosóficos faz com que seja possível reconhecer a função gnoseológica da poesia e das linguagens artísticas, a fim de reorganizar as diferentes tradições culturais em torno de uma nova antropologia e um novo ideal da filosofia. O curso centra-se no problema da linguagem e formas simbólicas na cultura da Europa moderna (século XV-XVI) e analisa a questão do estatuto da linguagem poética e da reorganização do conhecimento durante o Renascimento nas obras de Giovanni Pico della Mirandola, Marsilio Ficino e Angelo Poliziano. Duração: 4 aulas. Período sugerido: Março-Abril 2015. Programaçao: 1. “Prisca theologia” e “novam philosophia” na Renascença. Do estudo do passado emergia, no século XIV, uma radical discordia de doutrinas e de opiniões: “o bem e o mal mudam segundo as opiniões e os usos”, escrevia Giorgio Gemisto Pletone no inicio do seu Trattato sobre as leis, sustentando a necessidade de retomar a partir desse problema para chegar a reconhecer alguma coisa de comum e de antigo, capaz de permanecer no curso dos tempos e de ser uma guia para o homem sábio que não quisesse escolher ao acaso o próprio rumo. A ideia de “Prisca Theologia” – que também Marsilio Ficino retomará depois daquelas páginas de Pletone – dependia, porém, do estudo da linguagem, e implicava uma teoria bem precisa do conhecimento humano. Para elaborar uma resposta diversa do problema da discordia Pico abordou de maneira diversa a relação entre antiguidade e verdade, assinalando ao filósofo o dever de construir uma “nova philosophia” em uma perene pesquisa da verdade. 2.O problema da linguagem em Giovanni Pico della Mirandola. Toda a filosofia de Giovanni Pico tem como núcleo central o problema dos modos e das linguagens do conhecimento humano. É essa a reflexão que funda a sua visão do cosmo e do homem, a sua ideia de liberdade, o seu modo de conceber o valor da filosofia e da história do pensamento. Tanto na Oratio como no Commento, tanto no De ente et uno como nas Disputationes, o interesse de Pico se dirige com intenções diversas e de perspectivas diversas na relação entre sensibilidade, razão e intelecto: na Oratio é para defender o valor da liberdade; no De ente et uno, para demonstrar como da definição dos diversos planos do saber humano depende a possibilidade da concordia philosophorum; no Commento, a mesma indagação serve para esclarecer o conteúdo filosófico da palavra poética; e nas Disputationes, as indicações dos caracteres da experiência sensível no quadro general de uma teoria do conhecimento humano são funcionais à definição de uma indagação da natureza fundada sobre a união de sensibilidade e razão. 3. Eros e filosofia em Marsilio Ficino. Para Ficino, a beleza é princípio produtivo de amor: “e questa spezie divina, cioè Bellezza, in tutte le cose lo Amore, cioé desiderio di sé, ha procreato.” (Marsilio Ficino, Sopra lo amore ovvero Convito di Platone, Ed. SE, Milano 2003, p. 30). Seguindo a mística cristã, Ficino pensa a respeito de um movimento circular em que a beleza de Deus cria o amor. Contrariamente Pico, seguindo o Simpósio, concebe um percurso de sentido único que vai do homem ao infinito: em deus não existe beleza e não existe sequer amor. A diferença entre essas duas concepções está exatamente no modo de entender a relação entre finito e infinito. Para Ficino não há desproporção, não há um abismo, mas um tipo de continuidade – “circular”, efetivamente – que coloca o homem em continuidade com o divino. Ao contrário, para Pico, não pode existir distância mais radical: o homem é Eros, busca inquieta, e deus é paz e pleno de verdade; o homem ama o belo que é feito de contradição, “amica inimicizia” e “concorde discordia”. 4.“Teologia poética” e “racionalidade mitológica” na Renascença. Anunciando o projeto de uma theologia poetica que nunca verá a luz – uma grande obra que deveria, nas intenções de Pico, explicar os segredos escondidos nos grandes mitos do passado – Pico escreve na Oratio que Homero teria dissimulado nas viagens de Ulisses os fundamentos próprios de todas as ciências. No fim de 1488, realizando uma leitura pública da Ambra, também Angelo Poliziano evocara o poeta que “mostrou ao povo a face dos deuses”. A palavra poética, “verdadeira nutriz” da humanidade, era para Poliziano a força que, em sua origem, alimentara as “chamas de Prometeu” salvando o homem de um estado de natureza rudimentar e irracional para ensinar-lhes as técnicas da Sociedade humana. Como para Vico a poesia é aqui já interpretada como o ponto de origem e o instrumento imprescindível de compreensão dos acontecimentose da história humana. Bibliografia: Eugenio Garin, Ciencia e vida civil no renascimento italiano, Unesp, Sao Paulo 1996. Ernst Cassirer, Indivíduo e cosmos na filosofia do Renascimento, tradução do Alemão João Azenha Jr. ; tradução do Grego e do Latim Mario Eduardo Viaro, Martins Fontes, São Paulo 2001. Pico della Mirandola, Discurso sobre a dignidade do homem, texto integral, análise e tradução de Maria Isabel Aguiar, Areal Editores, Lisboa 2005. Giovanni Pico della Mirandola, Commento, traduit et annoté par Stéphane Toussaint, précédé de Les formes de l’invisible : essai sur l’ineffabilité au Quattrocento, L'Age d'homme, Lausanne 1989. Marsilio Ficino, O livro do amor, tradução de Ana Thereza Basilio Vieira, Centro de Investigação Filosófica , Clube de Literatura Cromos, Niterói, RJ 1996. Angelo Poliziano, Silvae, a c. di F. Bausi, Firenze 1996. |
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Carga Horária: |
8 horas |
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Tipo: | Optativa | ||||
Vagas oferecidas: | 40 | ||||
Ministrantes: |
Jonathan Molinari |
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