Atividade

84096 - Refletindo sobre a tecnologia (social) e a engenharia (popular) a partir da filosofia e das ciências sociais

Período da turma: 06/08/2018 a 27/08/2018

Selecione um horário para exibir no calendário:
 
 
Descrição: I. OBJETIVOS

Disponibilizar aos estudantes de graduação e pós-graduação da USP, bem como aos interessados em geral, acesso introdutório a algumas discussões desenvolvidas a partir da filosofia e das ciências sociais, sobre projetos técnicos sensíveis aos valores de grupos no geral socialmente desempoderados, com particular atenção à engenharia popular. Buscar suscitar nos participantes interesse não apenas pela reflexão filosófica sobre a tecnologia e, em particular, sobre a engenharia, como também pela prática da engenharia popular.

II. PROGRAMA

O curso contará com quatro aulas de duas horas de duração cada. O programa pretendido para tais aulas é o seguinte:

• AULA 1 – Refletindo sobre a tecnologia [I]
o Não neutralidade;
o Subdeterminação;
o Realidade sociotécnica;
• AULA 2 – Refletindo sobre a tecnologia [II]
o Democratização;
o Tecnologia social.
• AULA 3 – O projeto técnico para valores
o A tradição europeia dos projetos participativos [participatory design];
o A tradição norte-americana dos projetos sensíveis a valor [value sensitive design];
o A tradição brasileira da engenharia popular e a Rede de Engenharia Popular Oswaldo Sevá (Repos).
• AULA 4 – Desafios epistemológicos da engenharia popular
o Conhecimentos não científicos demandados no projeto técnico: as instrumentalidades do projeto;
o Tradução ou incorporação de valores, perspectivas e estéticas populares nas/às instrumentalidades do projeto;
o Potencialidades e desafios da engenharia popular no Brasil.

III. JUSTIFICATIVA DO PROGRAMA

Assumindo-se que o público que participará do curso tem pouco ou nenhum conhecimento sobre o tema, é necessário que se inicie a discussão introduzindo-se os elementos centrais sobre os quais se baseiam os projetos para valores, isto é, os conceitos de não neutralidade da tecnologia, de subdeterminação do desenvolvimento técnico e de realidade (ou unidade) sociotécnica. A partir desses conceitos, pode-se dar o passo seguinte na reflexão, analisando-se as questões da democratização da tecnologia e, como um dos casos particulares desta, a tecnologia social.

A engenharia popular (EP) é uma forma (brasileira) de se praticar engenharia cujo fruto técnico é tecnologia social. Ela, não obstante, é mais facilmente compreendida se for analisada em conjunto com duas outras tradições de desenvolvimento técnico sensíveis a valores sociais: a do projeto participativo (europeia) e a do projeto sensível a valor (norte-americana). Isso acontece porque, ainda que a EP guarde singularidades com respeito a tais tradições, a reflexão sobre estas é bastante mais extensa e bem estabelecida do que a que se tem sobre aquela.

Com isso, pode-se, por fim, apresentar parte dos desafios e das potencialidades da engenharia popular (e que, na verdade, são desafios e potencialidades de qualquer projeto para valores), ao modo como busca praticá-la a Rede de Engenharia Popular Oswaldo Sevá (Repos). (Essa reflexão constitui o cerne da minha pesquisa de pós-doutorado junto ao departamento de filosofia (FFLCH) da USP.)

IV. JUSTIFICATIVA DO CURSO

Por um lado, o curso se oferece como uma forma de eu partilhar com outras pessoas interessadas parte daquilo que estou pesquisando no meu pós-doutorado junto ao departamento de filosofia (FFLCH) da USP. Por outro lado, essa reflexão tem relevância política imediata, uma vez que muito das mudanças (políticas e) sociais pelas quais vários de nós luta ou almeja (na construção de um outro mundo possível) pressupõe tecnologias distintas das convencionais disponíveis. Nesse sentido, conhecer que tais tecnologias são passíveis de serem desenvolvidas se assim o quisermos (e que, em muitos casos, só serão desenvolvidas caso nos mobilizemos para tanto), é, na verdade, conhecimento fundamental para que tenhamos chance de alcançar algum êxito nessa luta.

V. MÉTODOS UTILIZADOS

Fundamentalmente, aulas expositivas, debates e análises de casos.

VI. ATIVIDADES DISCENTES

Participar das aulas e dos debates, e redigir pequenos textos de síntese pessoal.

VII. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Frequências mínima de 75%, participação nas aulas

VIII. LEITURAS SUGERIDAS

RIVERA, R.; CORTÉS-RICO, L.; PÉREZ-BUSTOS, T. & FRANCO-AVELLANEDA, M. Embroidering engineering: a case of embodied learning and design of a tangible user interface. Engineering Studies, 8, 1, p. 48-65, 2016.
VAN DE POEL, I. Design for Values in Engineering. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 667-90).

IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVEAR, C.; CRUZ, C.; MIRANDA, P. O campo da engenharia e desenvolvimento social no Brasil. Revista Tecnologia e Sociedade. Curitiba, 13, 27, p. 188-207, 2017.
AULER, D. & DELIZOICOV, D. Investigação de temas CTS no contexto do pensamento latino-americano. Linhas Críticas. Brasília, 21, 45, p. 275-296, 2015.
BALL, P. Elegant Solutions: Ten Beautiful Experiments in Chemistry. Cambridge: The Royal Society of Chemistry, 2005.
COMSTOCK, D. A Method for Critical Research. In MARTIN, M. & MACINTYRE, L.C. (Ed.) Readings in the Philosophy of Social Science. Cambridge, MASS: The MIT Press, 2001 [1994].
CUPANI, A. Filosofia da Tecnologia: um convite. Florianópolis: Editora UFSC, 2011.
CRUZ, C. Tecnologia social: fundamentações, desafios, urgência e legitimidade. 2017, 280 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Departamento de Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
______. Tecnologia social: fundamentos, legitimidade e urgência. Pensando – Revista de Filosofia, 8, 15, p. 119-47, 2017.
DAGNINO, R.; BRANDÃO, F. & NOVAES, H. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: LASSANCE Jr. et al. (Ed.) Tecnologia social – Uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004. p. 15-64.
__________. Em direção a uma tecnologia crítica da tecnologia. In: DAGNINO, R. (org.) Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. Campinas: IG/UNICAMP, 2009. p. 72-111.
DAVIS, J. & NATHAN, L. Value Sensitive Design: Applications, Adaptations, and Critiques. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 11-40).
DE VRIES, M. Translating Customer Requirements into Technical Specifications. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 489-512).
FEENBERG, A. Alternative Modernity: The Technical Turn in Philosophy and Social Theory. Berkley: University of California Press, 1995.
___________. Questioning Technology. New York: Routledge, 1999.
___________. Transforming Technology: a critical theory revisited. New York: Oxford University Press, 2002.
___________. Between Reason and Experience: Essays in Technology and Modernity. MIT Press, 2010.
___________. What I said and what I should have said: on critical theory of technology. Techné: Research in Philosophy and Technology, 17, 1, p. 163-78, 2013.
___________. The Philosophy of Praxis: Marx, Lukács and the Frankfurt School. London and New York: Verso, 2014.
___________. Lukács’s Theory of Reification and Contemporary Social Movements. Rethinking Marxism, 27, 4, 2015a.
___________. Simondon e o construtivismo: uma contribuição recursiva à teoria da concretização. Scientiae Studia, 13, n. 2, p. 263-81, 2015b.
___________. Fracchia and Burkett on tailism and the dialectic: a response. Historical Materialism, 23, 2, p. 1-11, 2015c.
___________. The concept of function in critical theory of technology. In: FRANSSEN, Maarten et al. Philosophy of technology after the empirical turn. Suíça: Springer, 2016. p. 283-304.
___________. A Critical Theory of Technology. In: FELT, U.; FOUCHÉ, R.; MILLER, C. & SMITH- DOERR, L. (Ed.). Handbook of Science and Technology Studies. MIT Press, 2017a. p. 635-663.
___________. Technosystem: the social life of reason. Harvard University Press, no prelo (2017b).
FERGUSON, E. Engineering and the mind's eye. Cambridge: Mass, 1992.
FRIEDMAN, B.; KAHN, P.; BORNING, A. Value Sensitive Design and Information Systems. In: P. Zhang & D. Galletta (Eds.). Human-Computer Interaction in Management Information Systems. Foundations. M.E. Sharpe, Inc: NY.
HOUKES, W. The Nature of Technological Knowledge. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 309-50).
KROES, P.; FRANSSEN, M.; BUCCIARELLI, L. Rationality in Design. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 565-600).
________. & VAN DE POEL, I. Design for Values and the Definition, Specification, and Operationalization of Values. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 151-178).
LACEY, H. Valores e Atividade Científica 1. São Paulo: Editora 34, 2008a.
_______. Valores e Atividade Científica 2. São Paulo: Editora 34, 2010.
MITCHAM, C. Thinking through technology. Chicago: University of Chicago Press, 1994.
MUMFORD, L. Authoritarian and democratic technics. Technology and Culture, 5, 1, p. 1-8, 1964.
NIEUSMA, D. & RILEY, D. Designs on development: engineering, globalization, and social justice. Engineering Studies, 2, 1, p. 29-59, 2010.
PINCH, T. & BIJKER, W. The social construction of facts and artifacts: or how sociology of science and the sociology of technology might benefit each other. In: BIJKER, W.; HUGHES, T. & PINCH, T. The social construction of technological systems: New directions in the sociology and history of technology. MIT Press, 1989.
PRESTON, B. Philosophical Theories of Artifact Function. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 213-33)
RILEY, D. Engineering and Social Justice: Synthesis Lectures on Engineers, Technology and Society. Willinston: Morgan and Claypool Publishers, 2008.
RIVERA, R.; CORTÉS-RICO, L.; PÉREZ-BUSTOS, T. & FRANCO-AVELLANEDA, M. Embroidering engineering: a case of embodied learning and design of a tangible user interface. Engineering Studies, 8, 1, p. 48-65, 2016.
RODRIGUES, I. & BARBIERI, J.C. A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável. RAP. Rio de Janeiro, 42, 6, p. 1069-94, 2008.
SCHUMACHER, E. O trabalho do grupo de desenvolvimento de tecnologia intermediária. Rev. adm. empres. [online], 14, 3, p.133-44, 1974.
SCHUMMER, J. The end of silent rites. HYLE – International Journal for Philosophy of Chemistry, 12, 1, p. 157-9, 2006.
___________.; MACLENNAN, B.; TAYLOR, N. Aesthetic Values in Technology and Engineering Design. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 1031-68)
SIMONSEN, J. & ROBERTSON, T. (Ed.). Routledge International Handbook on Participatory Design. London & New York: Routledge, 2013
SØRENSEN, K. The role of Social Science in Engineering. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 93-116)
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez Editora, 1986.
VAN DE POEL, I. Values in Engineering Design. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 973-1006).
VAN DE POEL, I. Translating Values into Design Requirements. In: MICHELFELDER, D.; MCCARTHY, N.; GOLDBERG, D. (Eds.). Philosophy and Engineering: Reflections on Practice, Principles and Process. Dordrecht: Springer, 2013 (p. 253-66).
_____________. Conflicting Values in Design for Values. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 89-116).
_____________. Design for Values in Engineering. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 667-90).
VAN DER VELDEN, M. & MÖRTBERG, C.. Participatory Design and Design for Values. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015. (p. 41-66)
VERMAAS, P. & GARBACZ, P. Functional Decomposition and Mereology in Engineering. In: MEIJERS, A. (Ed.). Philosophy of technology and engineering science. Amsterdam: Elsevier B. V., 2009 (p. 235-71)
___________; HEKKERT, P.; MANDERS-HUITS, N.; TROMP,N. Design Methods in Design for Values. In: J. Van den Hoven; P.E. Vermaas & I. van de Poel (eds.). Handbook of Ethics, Values, and Technological Design. Dordrecht: Springer, 2015 (p. 179-202).
VINCENTI, W. What engineers know and how they know it. London: The John Hopkins University Press, 1990.
WINNER, L. Do artifacts have politics? In: WINNER, L. (Org.). The whale and the reactor: a search for limits in an age of high technology. Chicago: University of Chicago Press, 1986. p. 19-39.

Carga Horária:

8 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 50
 
Ministrantes: Cristiano Cordeiro Cruz


 
 voltar

Créditos
© 1999 - 2024 - Superintendência de Tecnologia da Informação/USP