Atividade

84945 - Antropologia da Cidade: Modos de fazer

Período da turma: 12/09/2018 a 14/11/2018

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Descrição: O presente curso de atualização foi organizado por integrantes do Grupo de Estudos de Antropologia da Cidade (GEAC-USP), com base em pesquisas já realizadas e em andamento (principalmente de pós-graduação), num conjunto sistemático de leituras e seminários, e numa primeira experiência já ocorrida, em 2016. Volta-se à divulgação da antropologia e da etnografia, com foco nas abordagens sobre o contexto urbano, com atenção ao crescente interesse por parte de um público não especializado em ciências sociais. As aulas iniciais abordarão temas clássicos (da antropologia e da antropologia urbana), com destaque para questões contemporâneas que reaparecerão, sob distintas sínteses, nas aulas seguintes: alteridade, descentramento, etnografia (experiência de campo e escrita, com desafios específicos), artefatos presentes na interação etnográfica, a questão das linguagens possíveis (a partir da escrita), o uso de mapas e imagens. A bibliografia volta-se a noções básicas dos tópicos abordados, com a sugestão de leituras adicionais que permitem eventuais aprofundamentos específicos. Considera-se redirecionar parte do leque das abordagens no decorrer das aulas, a depender das demandas e necessidades do nosso público-alvo. Professores convidados participarão de forma pontual, e uma breve experiência etnográfica também será propiciada opcionalmente aos participantes.

Programa (sujeito a modificações)

Aula 1 – Abertura

a) Apresentação dos professores, dos alunos e do curso (objetivos, conteúdo, metodologia, bibliografia, trabalho final e demais questões);
b) Aula introdutória sobre antropologia, em seus fundamentos clássicos e contemporâneos.

Leitura sugerida (posterior à aula)
- MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1976 [1922], “Introdução: tema, método e objetivo desta pesquisa”, p. 17-34.
- MAUSS, M. “As técnicas do corpo”. In: ______. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003 [1934], p. 399-422.
- CLIFFORD, J. 2008 [1988]. A experiência etnográfica. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2008 [1988], cap. 1: “Sobre a autoridade etnográfica”, p.17-62.

Aula 2 – Fundamentos básicos da antropologia da cidade

Percurso genealógico, da sociologia à antropologia, e da Europa ao Brasil, centrado no enfoque da figura do citadino, que ocupa espaços urbanos, desloca-se por seus diversos territórios e estabelece relações de proximidade e distância com outros citadinos, em contextos específicos e situados.

Leitura sugerida

- SIMMEL, G. “As grandes cidades e a vida do espírito” [1903]. Mana vol. 11, n. 2, out./2005, p. 577-591, www.scielo.br/pdf/mana/v11n2/27459.pdf
- AGIER, M. “Os saberes urbanos da antropologia”. In: ______. Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo: Terceiro Nome, 2011, p. 59-88.
- FRÚGOLI JR., H. “A cidade no diálogo entre disciplinas”. In: FORTUNA, C. & LEITE, R. P. (orgs.). Plural de cidades. Coimbra: Almedina, p. 53-67.

Aula 3 – Significados do caminhar pela cidade para o conhecimento etnográfico

Essa aula dará continuidade a temas teóricos da antropologia da cidade, ao mesmo tempo que abordará aspectos da incursão etnográfica, a ocorrer na semana seguinte.

Leitura sugerida
- SILVA, H. R. S. “A situação etnográfica: andar e ver”. Horizontes Antropológicos, n. 32, ano 15, jul.-dez./2009, p. 171-188, http://www.scielo.br/pdf/um/v15n32/v15n32a08.pdf
- ARANTES, A. A. “A guerra dos lugares” in Arantes, A. A. Paisagens paulistanas: transformações do espaço público. Campinas: Ed. Da Unicamp, 2000, p. 105-129.
- DE CERTEAU, M. “Introdução” e “Relatos de espaço” (cap. 9) in De Certeau, M. A invenção do cotidiano: 1. Artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 1994 [1980].

Aula 4 – Incursão etnográfica

Realização de breves roteiros etnográficos pela região central de São Paulo, com ponto de partida às 19h na entrada do Centro Universitário Maria Antonia (USP), cujos percursos dialogarão com os temas das aulas 5 a 8 (mais detalhes serão acertados nas primeiras aulas).

Aula 5 – Como o caminhar forma e informa a cidade

Discussão de processos de produção do espaço urbano por meio da análise de duas atividades realizadas no centro da cidade de São Paulo: a zeladoria urbana desenvolvida por um conjunto de associações civis no centro da cidade, as Ações Locais, e uma atividade de caminhada pelo centro histórico da cidade, a Caminhada Noturna. A análise comparada dessas duas atividades nos permitirá discutir como ambas colaboram ativamente na construção de espacialidades, de circulação de pessoas, e, especialmente, na elaboração de uma agenda política sobre os usos esperados de uma região da cidade palco de disputas diversas. Analisaremos também como a abordagem de
redes permite adensar o mapeamento dessas disputas trazendo à tona valores, práticas espaciais, controvérsias e incômodos associados ao espaço pelos agentes urbanos.

Leitura sugerida:
- CHIZZOLINI, B. B. Tecendo a rede: uma etnografia de moradores(as) e comerciantes no centro de São Paulo entre práticas e discursos de requalificação. Dissertação de mestrado (Antropologia Social), Universidade de São Paulo, 2013 (capítulo 3: “A Caminhada Noturna: zeladoria urbana, preservação de patrimônio e memória”).
- LE BRETON, D. Caminar: um elogio. Um ensayo sobre el placer de caminar. Ciudad de México: La Cifra Editorial, 2011 (capítulo a definir).

Aula 6 – Renovando o muro: práticas de graffiti, usos da rua e noções de propriedade

Discussão, a partir das práticas de graffiti, de como certos paradigmas das cidades contemporâneas ganham novos significados e sentidos nas interações e dinâmicas da dimensão cotidiana da vida social. Abordaremos (1) procedimentos, fazeres e usos da rua das práticas de graffiti da cidade de São Paulo; (2) os conceitos de uso e apropriação a partir das práticas de graffiti; (3) significados e sentidos que as noções de propriedade pública e privada ganham através dos usos da rua destas práticas; e (4) como a aproximação etnográfica permite acesso a uma visão processual dos espaços urbanos e reconhecimento da diversidade de usos ali coexistentes.

Leitura sugerida:
- LEAL, G. “Graffiti para além dos muros: Usos da rua e práticas de enfrentamento da cidade”. Enfoques, v. 16, n. 1, p. 32-44, 2017, https://revistas.ufrj.br/index.php/enfoques/article/view/17116/10775
- SANTOS, C. N. F. & VOGEL, A. (coord.). “A Rua Emília Guimarães” e “Os Trabalhos e os Dias”. In: ___________. Quando a rua vira casa: a apropriação dos espaços de uso coletivo em um centro de bairro. São Paulo: Projeto, 1985.

Aula 7 – Discussões globais, contextos locais: gentrification e agências

Discussão, a partir do conceito de gentrification, das possibilidades e limites de apropriação de temas “globais” dos estudos e debates urbanos na compreensão de fenômenos observados no contexto local. Para isso, serão mobilizados os seguintes tópicos: 1) o conceito de agência, de pessoas que podem produzir tanto resistências quanto endossos a dinâmicas de enobrecimento e expulsão; 2) as subjetividades envolvidas nas percepções de mudanças no espaço urbano; 3) a polissemia e as divergências teóricas em torno da gentrification. Será apresentado o estudo de caso da pesquisa atualmente em andamento na Vila Buarque.

Leitura sugerida
- FRÚGOLI JR., H.; SKLAIR, J. “O bairro da Luz em São Paulo: questões antropológicas sobre o fenômeno da gentrification”. Cuadernos de Antropología Social, n. 30, p. 119–136, 2009.
- PUCCINELLI, B. “Perfeito para você, no Centro de São Paulo”: Mercado, conflitos urbanos e homossexualidades na produção da cidade. Tese de doutorado (Ciências Sociais), Universidade Estadual de Campinas, 2017 (capítulo 2: “Tudo gira em volta: mercado imobiliário e produção da diversidade no centro”).
- RUBINO, S. “Gentrification: notas sobre um conceito incômodo”. In: SCHICCHI, M. C.; BENFATTI, D. (eds.). Urbanismo: dossiê São Paulo - Rio de Janeiro. Campinas; Rio de Janeiro: PUC-Campinas/Prourb-UFRJ, 2003.

Aula 8 – Desafiar a política na cidade: práticas ativistas e usos do espaço

Com foco nas práticas de um coletivo ativista de ocupação política da cidade de São Paulo, abordaremos experiências de usos do espaço público para contestação. Com base em etnografia recente, propomos olhar para o emaranhado de fronteiras e de relações entre: público, privado, participação, representação e descentralização. Para além do campo epistemológico, esses conceitos revelam práticas e modos de se apropriar de espaços na cidade, fomentando (ou não) um modo de se fazer política na relação com o outro.

Leitura sugerida
- STRATHERN, M., O efeito etnográfico, São Paulo, Cosac Naify, 2014 [1996], cap. “O conceito de sociedade está teoricamente obsoleto?”, p. 231-239.
- FRÚGOLI JR., H. “Ativismos urbanos em São Paulo”. Caderno CRH, v. 31, n. 82, jan.-abr. de 2018, p. 75-86.

Aula 9 – O SESC e a cidade: centralidades das instituições culturais e de lazer em São Paulo; entrega dos trabalhos

Apresentação dos resultados da pesquisa “Cultura e lazer: práticas de lazer e físico-esportivas nas unidades do SESC”, com base em pesquisa etnográfica coordenada por José Guilherme Magnani e realizada de forma coletiva e compartilhado por uma equipe de pesquisadores e pesquisadoras vinculados à USP. Além de contribuir para a discussão sobre a importância das instituições culturais e de lazer nas dinâmicas urbanas, a pesquisa realizada nas unidades do SESC traz uma reflexão metodológica sobre os desafios de fazer etnografia nas sociedades contemporâneas.

Leitura sugerida
- TALHARI, J. C.; SANTOS, T. P.; KONNO, S.; SANDES, L. L. “Uma forma de arte: por dentro das práticas dos frequentadores do Sesc SP”. In: MAGNANI, J. G. C.; SPAGGIARI, E. (orgs.). Lazer, de perto e de dentro. São Paulo: SESC, 2018 (no prelo).

Aula 10 – Diálogos reflexivos sobre a jornada e devolução comentada dos trabalhos: partilha de experiências e debate final.

Carga Horária:

30 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 80
 
Ministrantes: Bianca Barbosa Chizzolini
Enrico Spaggiari
Flavia de Faria Moreira da Silva
Gabriela Pereira de Oliveira Leal
Heitor Frúgoli Junior
Mauricio Fernandes de Alcantara


 
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