Atividade

90409 - Lutas e Resistências: experiências brasileiras contemporâneas

Período da turma: 01/10/2019 a 29/10/2019

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Descrição: Primeira Sessão: Lutas urbanas: os direitos à educação e moradia

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e o movimento dos estudantes secundaristas conduziram alguns dos principais processos de luta que a região metropolitana de São Paulo testemunhou nos últimos anos. A expressão destacada dessas experiências revela a medida em que a política feita à margem dos canais formais de participação e representação tem assumido relevância como recurso de resistência e reivindicação. Com efeito, em meio à desconfiança em relação às organizações e aos instrumentos que historicamente carregaram interesses e esperanças das camadas populares, a prática política se volta também para formas e espaços extralegais de participação. Sobretudo em um momento em que o projeto moderno de democracia dá sinais robustos de que não corresponderá às expectativas mais elementares quanto a direitos universais como moradia e educação. Além disso, os dois movimentos ainda compartilham uma atuação privilegiada nas periferias de São Paulo e são marcados, portanto, por dinâmicas particulares a elas. O objetivo desta seção é dividir e discutir semelhanças e diferenças a respeito das formas de organização e das práticas de luta que partem do território, atravessam as instituições e transformam, para além da realidade objetiva de seus membros, as formas com que lidam uns com os outros e com o momento de esfacelamento de promessas que nunca chegaram.

Referências:

Boulos, Guilherme. Por Que Ocupamos? Uma introdução à luta dos sem-teto. São Paulo: Autonomia. Literária, 2015.
____, De que lado você está? Reflexões sobre a conjuntura política e urbana no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2015.

Campos, Antonia M.; Medeiros, Jonas; e Ribeiro, Márcio. Escolas de Luta. São Paulo: Veneta, 2016.

Goulart, Débora C. O Anticapitalismo do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto – MTST. Tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, campus Marília, 2011. Disponível em http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2012/08/D-Goulart-MST.pdf.

Sader, Eder. Quando novos personagens entram em cena. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988

Simões, Guilherme; Campos, Marcos; e Rafael, Rud. MTST 20 anos de história: luta, organização e esperança nas periferias do Brasil. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

“Espero tua (re)volta”. Filme de Eliza Capai sobre as ocupações das escolas de São Paulo em 2015


Segunda Sessão: (Neo)(Pós)Colonialismo e as lutas indígenas no Brasil

As novas teorias sobre o colonialismo defendem que este deve ser entendido como um processo contínuo. Em outras palavras, a independência política e consequente criação dos estados pós-coloniais não significam o fim do processo colonial. A resistência das comunidades e etnias originárias da América ao aniquilamento das suas formas de vida, culturas, línguas e seus próprios corpos, testemunham a continuidade da violência colonial. A relação do Estado brasileiro com as comunidades indígenas, todavia, não é apenas uma reminiscência de um pecado originário colonial, registra a tensão no caminho para novas formas de viver, de organização e produção do comum e da política. As lutas indígenas impõem-se a qualquer tentativa de refletir sobre as reais condições de realização da nossa democracia; felizmente, sua potência equivale-se à sua significância. Como explicita Kopenawa, os indígenas trazem ao homem branco um último aviso sobre a incongruência de suas instituições, a insustentabilidade do modo de produção e vida capitalista.

Referências:

KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: palavras de um xamã yanomami. Companhia das Letras, 2016.

VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. Editora Companhia das Letras, 2017.

CLASTRES, Pierre. A sociedade contra o Estado. Editora Cosac Naify, 2014.

Documentários: Os segredos da tribo. Direção de José Padilho, 2013.
Sobre a violência. Goran Olsson, 2014.


Terceira sessão: Marcadores Sociais da Diferença, Feminismos e Necropolítica

Os marcadores sociais - raça e etnia, classe, gênero, sexualidade - claramente marcam distinções na organização da vida social e política. Por vezes chamadas de questões identitárias, estas distinções, que enquadram como as pessoas navegam pela vida social, tomou progressiva centralidade no cenário político nacional e internacional, sobretudo na disputa eleitoral. É conhecido na Ciência Política o deslocamento das agendas econômicas do centro do debate político eleitoral nas democracias ocidentais em favor de pautas culturais. Todavia, como marca a longa tradição dos estudos feministas, o corpo é a última fronteira no político. As leituras pós-estruturalistas sobre Poder, são de especial interesse para interpretar as dinâmicas em que gênero, raça, sexualidade e classe, são articulados em processos últimos de exercício do Poder: o poder de fazer viver e morrer. O feminicídio, o genocídio da população negra e o dispositivo da AIDS, se relacionam na sua construção do sujeito matável, na determinação pública e estatal de quais corpos são passíveis de serem mortos ou deixar-se morrer (laisser et faire mourir).

Referências:

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, [S.l.], n. 32, mar. 2017. ISSN 2448-3338. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2019.

DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Boitempo Editorial, 2016.

OLIVEIRA, Luiz Felipe Garcia. Necropolítica e indetectabilidade: a esterilização físico-química do “Paciente 0”. No prelo, publicação prevista para o mês de maio como capítulo na Coletânea Práticas Sexuais: itinerários, possibilidades e limites de pesquisa da Editora Devires.

Coletiva LOKA:
● “Discordante” disponível em:
https://www.facebook.com/LokadeEfavirenz/posts/721056094926199?__tn__=K-R
● HIV E RACISMO: O estigma do vírus e as opressões históricas da população negra: https://www.facebook.com/LokadeEfavirenz/posts/377361939295618?__tn__=K-R


Quarta sessão: Bio(necro)política extrativista

Os crimes ambientais relacionados a rompimento de barragens têm se tornado cada vez mais frequentes no Brasil. Em novembro de 2015, rompeu-se a barragem da Samarco em Mariana – MG, e em janeiro de 2019, um caso semelhante aconteceu em Brumadinho – MG. Além disso, os noticiários têm mostrado uma quantidade crescente de barragens que estão sob alerta de rompimento. As narrativas sobre todas essas tragédias estão em disputa: de um lado, há uma normalização dos acontecidos, enquadrados como meros acidentes; de outro, existe uma grande rede de mobilização que tenta apresentá-los como crimes, cujos responsáveis devem ser punidos.
Também é necessário considerar que o modelo de mineração que deu causa a esses crimes não é um “desvio de conduta” de algumas empresas. Ao contrário, representa um projeto de desenvolvimento nacional pautado pelo uso predatório dos recursos naturais, que mantém o país em uma posição subordinada na divisão internacional do trabalho e ainda ameaça a vida de inúmeras comunidades ribeirinhas permanentemente impactadas. Entretanto, também há muita resistência, com destaque para movimentos como o MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, que luta em defesa dos direitos dos atingidos e atingidas, em defesa da água e da energia e pela construção de um Projeto Popular para o país.

Referências:

SCHERER-WARREN, Ilse; REIS, Maria José. Do local ao global: A trajetória do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e sua articulação em redes. REIS, v. 1998, n. 2001, 2006.

FOSCHIERA, Atamis Antonio. Da barranca do rio para a periferia dos centros urbanos: a trajetória do Movimento dos Atingidos por Barragens face às políticas do setor elétrico no Brasil. 2010.

REIS, Maria José. O movimento DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS: ATORES, ESTRATÉGIAS DE LUTA E CONQUISTAS. Lutas camponesas contemporâneas: condições, dilemas e conquistas, v. 1, p. 265-286, 2001.

DE OLIVEIRA PENIDO, Marina. Bio (necro) política da mineração: quando o desastre atinge o corpo-território. Revista Brasileira de Geografia, v. 6 n. 2. 2018. 38-51

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB): https://www.mabnacional.org.br/


Quinta sessão: Insurgências: povo(s), populismo e democracia

Entre as questões caras à ciência política encontram-se a participação e a reflexão sobre a natureza e composição do corpo político, quem são a demos/populus nunca se tratou de uma questão encerrada. Frente à presente crítica da democracia representativa, ameaçada em diversos frontes, cabe retomar questões clássicas do pensamento político. Sujeitos e práticas emergentes questionam e esgarçam o arcabouço canônico da Ciência Política. Cabe refletir sobre as novas formas de assembleia e organização políticas; é necessário, também, novos entendimentos sobre o espaço público, os mecanismos de tomada de decisão, que são tensionados pelas novas formas de engajamento. Esta seção propõe buscar na filosofia política contemporânea ferramentas teóricas capazes, não apenas de interpretar o sentido dos novos fazeres políticos, mas que sirva de base para sustentação da potência criativa e inovadora das novas insurgências.


Referências:

BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas sobre uma teoria performativa de assembléia. Civilização Brasileira. 2018

MOUFFE, Chantal. For a left populism. Verso Books, 2018.

Carga Horária:

15 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 100
 
Ministrantes: Caetano Patta da Porciuncula e Barros
Lucas Damasceno Pereira
Natália Lima de Araújo
Philippe Franco Scerb


 
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