Atividade

91021 - Deleuze e a literatura ou como construir uma linha de fuga

Período da turma: 09/09/2019 a 30/09/2019

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Descrição: I. OBJETIVOS

O curso visa pensar o lugar da literatura na filosofia de Deleuze. O foco está na passagem de Proust e os signos às análises feitas por Deleuze, com Guatarri, sobre Kafka, que permitem situar as questões políticas, críticas e clínicas, que tornam a literatura um espaço fundamental para a análise da vida social, mas também para a construção de saídas, para a invenção de formas de vida distintas.



II. PROGRAMA


Apresentamos, inicialmente, o conceito de linha de fuga, elaborado por Deleuze e Guatarri, nas análises da obra de Kafka. Traçaremos a origem desse conceito, presente no capítulo “A questão mais profunda”, do livro Entretien infini de Blanchot. Em seguida, tratamos da presença da fuga na poesia de Mallarmé, mais especificamente no poema “Brise marine” (Brisa marinha). Daí pensaremos a presença de Mallarmé em Proust e a maneira como Proust constrói a personagem Albertine, definida por Marcel como “ser de velocidade”, “poeira de nebulosa” ou “ser de fuga”. Daí a passagem pelo Método Albertine de Anne Carson.
Analisaremos a máquina literária proustiana, que se constrói atravessando mundos distintos, para em seguida, passarmos às análises do fascismo e da máquina literária kafkiana, que se constrói, por sua vez, entre gêneros distintos, passando das cartas à novela, com seu devir animal para, enfim construir-se em romance polifônico. É essa polifonia que nos interessa e a ideia de literatura e de escrita que ela comporta, como construção de arranjos diversos entre múltiplas vozes.

Aulas:
Aula 1 e 2
Fugir!
Leitura de “Brise marine” de Mallarmé e da análise de Blanchot sobre o que seria a arte da fuga na literatura.
Albertine: Ser de velocidade, poeira de nebulosa, uma menina nunca é só uma menina. Leitura de Anne Carson e de trechos selecionados de A prisioneira e A desaparecida.
De que são feitos os sonhos: metáfora e metonímia, condensação e deslocamento.
Questão de forma: Escrever um romance é atravessar mundos. A máquina literária proustiana. A verdadeira vida é a literatura: um romance de formação que não é como os outros.

Aula 3 e 4

Tudo é político!
Um outra análise do fascismo. Fascismo x micro fascismo.
Microfísica do poder e construção de agenciamentos. Como fugir? Como construir linhas de fuga consistentes.
O que é uma literatura menor. A língua e os gêneros.
Questão de forma: escrever atravessando gêneros, das cartas e sua relação com o romance; a novela e o devir-animal.



III. JUSTIFICATIVA DO PROGRAMA

Deleuze e Guattari construíram seu pensamento filosófico a partir de uma preocupação clínica, buscando nas artes uma desorganização criadora que nos permitisse “ir além de nós mesmos”. A literatura e as artes sempre foram, nesse sentindo, o encontrar espaço privilegiado de livre construção de outras formas de vida. A análise de Proust e os signos visa justamente salientar de que maneira Deleuze entende a forma literária criada por Proust e a originalidade dessa análise em relação à crítica literária. Em seguida, buscamos compreender uma mudança radical no pensamento de Deleuze, depois do encontro com Guattari, quando a política passa a ocupar a lugar central em sua obra. Assim, na análise de Kafka: por uma literatura menor, a questão que nos guiará é a de saber como a literatura se transforma, de seu interior, no interior dos gêneros literários e navegando entre eles, para construir um espaço de análise e descrição do poder em vigor na vida social, mas também das possibilidades de escapar dessas formas de poder.

V. JUSTIFICATIVA DO CURSO (A importância do Curso)

A originalidade das análises deleuzo-guattarianas de obras literárias está na contramão de fenômenos recorrentes na psicanálise, na crítica literária e na filosofia. Isso porque Deleuze e Guattari não se interessam apenas pelo conteúdo das obras e seu suposto “dito”, mas pela sua forma e por sua construção. Nesse curso, salientamos, a partir da análise comparativa entre Proust e os signos e Kafka: por uma literatura menor, que a questão da consistência da forma literária torna-se cada vez mais central quanto mais a literatura aproxima-se da política. Isso porque Deleuze e Guattari entendem a literatura como uma linha de fuga, mais precisamente, como saúde, espaço onde é possível pensar, imaginar e construir formas de vida desviantes, linhas que não cessam de escapar dos processos de captura do poder.

IV. MÉTODOS UTILIZADOS

Ex. Aulas expositivas e estudos dirigidos.


Bibliografia

CARSON, A. Método Albertine. São Paulo: Jabuticaba, 2018.
PROUST. À la recherche du temps perdu. Paris : Gallimard,
DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. 2.ed. trad. Antonio Piquet e Roberto Machado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
DELEUZE; GUATTARI. Kafka. Por uma literatura menor. Trad.: Cíntia Vieira da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2018.
DELEUZE. Crítica e clínica. São Paulo: Editora 34, 1997.
KAFKA, F. A metamorfose. São Paulo: Companhia de bolso, 2005.
_______ O processo. São Paulo: Vozes de bolso, 2018.
_______ Contos escolhidos. São Paulo: Relógio d’água, 2018.
BLANCHOT. L’entretien infini. Paris: Gallimard, 1969.
MALLARMÉ. Poésies. Paris : Gallimard, 1994.
GUATTARI. Revolução molecular. Seleção, prefácio e tradução Suely Rolnik. São Paulo: Editora brasiliense, 1985.
_________ « Les ritournelles du temps perdu ». In : L’inconscient machinique. Paris: Éditions recherche, 1979.
ROLNIK. S. GUATTATI, F. Cartografias do desejo. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.
_________ Esferas da insurreição. São Paulo: N-1, 2018.
SAUVAGNARGUES, A; GARO, I. « DELEUZE, GUATTARI ET MARX ». Presses Universitaires de France. « Actuel Marx », 2012/2 n° 52.
SAUVAGNARGUES, Anne. Deleuze et l’art. Paris: PUF, 2006.
_______________________« Une écologie de la littérature. Proust selon Deleuze », in
Les TempsModernes, n° 676. Formalisme et littérature, novembre-décembre 2013.

Carga Horária:

12 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 50
 
Ministrantes: Larissa Drigo Agostinho


 
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