Atividade

91927 - Metamorfoses de Dom Quixote: o cavaleiro da triste figura vai ao cinema

Período da turma: 17/10/2019 a 21/11/2019

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Descrição: O romance El ingenioso Hidalgo Don Ouijote de La Mancha de Miguel de Cervantes Saavredra (1547-1616) é considerado um marco iniciador do romance moderno, o protagonista não é um herói clássico como Hércules, Ulisses ou o Rei Arthur, mas um homem comum com suas mazelas, desejos, inseguranças e percepção não mais ubíqua da realidade. O romance é dividido em duas partes, a primeira foi publicada em 1605, e obteve um imenso sucesso, suscitando imitadores, falsificações; em 1615, um ano antes de sua morte Cervantes lança a segunda e última parte. Quando o segundo volume foi impresso, o primeiro já tinha sido traduzido ao Inglês, Francês e ao Italiano, hoje ele está traduzido para todos os idiomas que tem escrita conhecida, neles incluídos Euskera, Catalão, Occitano e Farsi.

Dentro da história da cultura alguns livros são considerados marcos no entendimento do que é a humanidade e são representantes de seus máximos valores e são fontes de inspiração permanente. Entre um número de dez livros citados em muitas pesquisas, de valor internacional, o Ouijoíe costuma estar em primeiro lugar, seguido por Homero com a Ilíada ou a Odisseia, A divina comédia de Dante Alighieri, Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, Guerra e paz de Leon Tolstói, Ulisses de James Joyce, Romancero Gitano de Federico García Lorca, Mensagem de Fernando Pessoa, O lobo da estepe de Hermann Hesse, Vinte poemas de amor e uma canção desesperada de Pablo Neruda (faço um recorte pessoal). O cinema inspirou-se na narrativa do romance do final do século XIX (e em sua tradição) para desenvolver sua linguagem, e sempre teve nele um repertório inesgotável para suas adaptações.

El Ingenioso hidalgo Don Quijote de La Mancha no cinema

O número de adaptações cinematográficas de Don Quijote já passa de quarenta conhecidas, muitas delas só temos referências em documentos da literatura da área, são filmes perdidos ou dados como. Este curso se propõe a revisitar algumas delas.

Programa:
1- A primeira versão é a francesa do início do cinema, feita em 1898, lembremos que o cinema nasceu em 1895. O grande criador da ficção no cinema, o francês Georges Méliès, fez uma versão em 1909; o reconhecido cineasta austríaco Georg Wilhelm Pabst fez uma em 1933.
2- Vale a pena destacar que a considerada a melhor adaptação pela crítica é a russa, dirigida por Grigory Kozintesev, em 1957. O Quixote é feito pelo ator Nicolai Tcherkassov, que tem uma interpretação muito contida, deixando muitas intenções ocultas, como se estivesse em uma obra de Anton Tchecov, com sua 'vida submersa no texto'. Tcherkassov anda pela aldeia, um cenário fantástico construído na planície russa, com uma capa negra, escondendo-se com gestos muito teatrais. E uma boa versão, mas falta a vida e a solaridade manchega.
3- A primeira adaptação feita na Espanha é a de 1947, bem avaliada até hoje. O filme é dirigido por Rafael Gil, diretor criativo e tem como Quijote Rafael Rivelles, que tem a presença destrambelhada necessária para o personagem. O filme tem poucos recursos técnicos a disposição, como fica evidente na cena da luta com os moinhos de vento, mas é filmado no cenário real, La Mancha, e sobra talento aos intérpretes. Orson Welles dirigiu uma versão em 1955 na Espanha, que ficou incompleta e sem montagem, como alguns de seus trabalhos, ela foi finalizada pelo cineasta espanhol Jesus Franco somente em 1992, com um fraco resultado.
4- A melhor de todas as versões é a espanhola feita em 1991; da primeira parte, com roteiro de Camilo José Cela, escritor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1989, com Fernando Rey, o melhor Quixote do cinema sem sombra de dúvidas e acompanhado pelo conhecido comediante Alfredo Landa, que faz um impagável Sancho. A segunda parte deste Quixote não foi realizada, pois Fernando Rey morreu em 1994, uma pena.
5- A atualidade do tema no panorama cultural atual através da última versão feita do romance, em 2018, dirigida por Terry Gillian, The man Who killed Don Quixote, que retoma a força do personagem de Cervantes, faz uma adaptação com as marcas de estilo do diretor, que inserem-se na chamada pósmodernidade.


Referências:
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Cinema espanhol: nascimento, alguns caminhos trilhados, possibilidades. São Paulo: Editora Daikoku, 2013.
Os primeiros oitenta anos do cinema espanhol: una mirada nostálgica.

Revista Poéticas Visuais. , v.2, p.59 - 71, 2011.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia. Lisboa: Edições 70, 1985.
Poética do pós-modernismo. Rio de Janeiro: Imago, 1991

MARTIN, Michel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Editora Brasiliense, 2003.
PUCHNER, Martin. O mundo da escrita — como a literatura transformou a civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
QUINTANA, Angel. Fábulas de Io visible. El cine como creador de realidades.
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SADOUL, Georges. O cinema. Rio de Janeiro: Editora Casa do Estudante do Brasil,
1956.
SANCHEZ NORIEGA, José Luis. Historia dei cine. Madrid: Alianza, 2002.
SAVATER, Fernando. Instrucciones para olvidar El Quijote. Madrid: Santillana, 1995.
UNAMUNO, Miguel de. El cabaliero de 1a triste figura. Madrid: Espasa calpe, 1963.
VIEIRA, Maria Augusta da Costa. A narrativa engenhosa de Miguel de Cervantes.
São Paulo: Edusp, 2017.

Carga Horária:

30 horas
Tipo: Obrigatória
Vagas oferecidas: 35
 
Ministrantes: João Eduardo Hidalgo


 
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