A Música Popular Brasileira, enquanto um domínio espontâneo do povo, manteve-se como a principal cronista das comunidades que não tiveram outra maneira de registrarem a sua história, sobretudo porque a história que estudamos sempre foi a narrada pela elite, pelos reis e administradores e nunca a do povo. Construída quase que predominantemente de maneira oral, mesmo quando criada pelas pessoas letradas, a música popular narrou fatos - a partir da perspectiva de quem os viveu - que passariam despercebidos por todos nós como o êxodo migratório para o Sudeste, o ocaso da agricultura e avanço da pecuária na conquista do Oeste na metade do século XX, a realidade das insurgentes comunidades (outrora favelas) no Rio de Janeiro no início do século XX e a realidade presente hoje nas periferias das grandes cidades. E tudo isso construído com grande criatividade artística e diálogo com as músicas do mundo que aqui chegavam, antes pelo cinema e depois pelo rádio, pelo disco, pela TV e agora pela internet. Sendo o Brasil um país multicultural, embora poucas vezes tenha sido visto como tal, a nossa história resulta de um conjunto de micro-histórias ainda que a voz predominante insista ainda em tratar alguns gêneros como pertencentes à MPB e outros como música regional, como se num país multicultural fosse possível haver algo que não fosse regional. Muito da história da música popular que foi estudada na academia teve como principal parâmetro de conhecimento os livros que foram escritos a partir de impressões pessoais de cada autor em sua respectiva área de conhecimento. Num outro caminho de busca do conhecimento, esse curso pretende preparar o aluno através de farta contextualização histórica de cada época estudada somada a uma escuta atenta e objetiva a partir das fontes primárias, que são os discos. Toda a literatura estará disponível na forma de livros e artigos, mas sempre depois, e nunca antes, do contato com as fontes primárias, no caso, as gravações. Como objetivo final pretende-se formar cidadãos que conheçam mais a fundo a cultura e a realidade que os cerca buscando fortalecer uma maior relação de pertencimento desses com o país que lhes pertence.
A partir de um fio temporal, fazer uma contextualização sociohistórica de música popular brasileira desde sua inclusão no disco, em 1902. Seguido à contextualização sociohistórica, segue-se a audição, apreciação e entendimento da referida produção musical buscando, sobretudo, entender a sua localização dentro de um campo estético-criativo e social no país em que estamos inseridos.
1. Contextualização Histórica 2. Escuta Ativa
Além da busca de toda a discografia produzida na Música Popular Brasileira, ABREU, Martha. 1999. O IMPÉRIO DO DIVINO. Rio de Janeiro, Nova Fronteira. AZEVEDO, Ricardo. 2013. ABENÇOADO E DANADO DO SAMBA. São Paulo, Edusp. BAKHTIN, Mikhail. 2008. A CULTURA POPULAR NA IDADE MÉDIA E NO RENASCIMENTO. (6a edição). São Paulo/Brasília, Hucitec/UNB. BENJAMIN, Walter. 1985. OBRAS ESCOLHIDAS - MAGIA E TÉCNICA, ARTE E POLÍTICA. São Paulo, Editora Brasiliense BOSI, Alfredo. 1992. DIALÉTICA DA COLONIZAÇÃO, (4a edição) São Paulo, Cia das Letras. CARVALHO, José Murilo de. 1989. OS BESTIALIZADOS - O RIO DE JANEIRO E A REPÚBLICA QUE NÃO FOI. Companhia das Letras. São Paulo. _________________________. 2017. A FORMAÇÃO DAS ALMAS - O IMAGINÁRIO DA REPÚBLICA NO BRASIL. Companhia das Letras. São Paulo. (2ª edição). ELIAS, Norbert. 1994. O PROCESSO CIVILIZADOR – VOLUME 1. Rio de Janeiro. Zahar. ______________. 1993. O PROCESSO CIVILIZADOR – VOLUME 2. Rio de Janeiro, Zahar. FERNANDES, Florestan. 1979. FOLCLORE E MUDANÇA SOCIAL NA CIDADE DE SÃO PAULO. Petrópolis, RJ, Vozes. GINSBURG, Carlo. 2013. O QUEIJO E OS VERMES. São Paulo. Companhia das Letras. ————————. 1991. A MICRO-HISTÓRIA E OUTROS ENSAIOS. Lisboa, Portugal. DIFEL (Difusão Europeia de Livros), coleção Mermória e Sociedade HOBSBAUWM, Eric e RANGER, Terence. 1984. A INVENÇÃO DAS TRADIÇÕES. Rio de Janeiro. Editora Paz e Terra. MARTINS, José de Souza. 2008. A SOCIABILIDADE DO HOMEM SIMPLES. São Paulo, Contexto. MINER, Horace 1976. RITOS CORPORAIS ENTRE OS NACIREMA. in: A.K. Rooney e P.L. de Vore (orgs) YOU AND THE OTHERS - Readings in Introductory Anthropology (Cambridge, Erlich). (https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/364413/mod_resource/content/0/Nacirema.pdf) MOURA, Roberto. 1983. TIA CIATA E A PEQUENA ÁFRICA NO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro. FUNARTE. RIBEIRO, Darcy, 2004. O POVO BRASILEIRO. (2a edição) São Paulo, Cia das Letras. SAHLINS, Marshall. 1990. ILHAS DE HISTÓRIA. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor _________________. 1988. COSMOLOGIAS DO CAPITALISMO NO SETOR TRANSPACÍFICO SUL. Campinas, SP, Conferência na XVI Reunião da Associação Brasileira de Antropologia. Anais ABA. SANT'ANNA, Affonso Romano de. 1978. MÚSICA POPULAR E MODERNA POESIA BRASILEIRA. Petrópolis. Editora Vozes. TATIT, Luiz. 2002. O CANCIONISTA - COMPOSIÇÃO DE CANÇÕES NO BRASIL. São Paulo. EDUSP. TINHORÃO, José Ramos. 1990. HISTÓRIA SOCIAL DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA. Lisboa, Portugal, Editorial Caminho. TODOROV, Tzvetan. NÓS E OS OUTROS - A REFLEXÃO FRANCESA SOBRE A DIVERSIDADE HUMANA. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor. ULHÔA, Martha Tupinambá. 2007. INVENTANDO MODA - A CONSTRUÇÃO DA MÚSICA BRASILEIRA. ICTUS (PPGMUS/UFBA) V. 8, p. 1-14. VILELA, Ivan. 2013. CANTANDO A PRÓPRIA HISTÓRIA - MÚSICA CAIPIRA E ENRAIZAMENTO. São Paulo, EDUSP. XIDIEH, Oswaldo Elias. 1993. NARRATIVAS POPULARES. Belo Horizonte, Itaitaia/EDUSP.