- Dar bases para o raciocínio histórico e como este pode ser feito a partir de uma história da música; - Compreender a música “como” e “na” cultura de tal forma a constituir uma visão da pluralidade das manifestações musicais - Apresentar a história da música a partir da história das ideias que permeiam a consubstanciação da prática musical, da teoria e estética da música - Desenvolver o conhecimento da historiografia consagrada pela musicologia contemporânea, assim como perscrutar novos textos publicados em revistas de divulgação científica da área. - Desenvolver a capacidade de reconhecimento das estruturas epistemológicas que consubstanciam a música como prática e teoria.
A narração da História da Música passa por um momento de grande transformação. Originalmente vinculada à ideia da organicidade das grandes obras de arte, a História da Música sofreu um forte impacto com o desenvolvimento de uma postura que liquidava a ideia de desenvolvimento de uma razão natural da música como fenômeno, para o entendimento da música como expressão de culturas diversas. Isso abriu a própria narrativa para o encontro dos múltiplos significados e contextos de sua condição social, incluindo uma antropologia da escuta. Este curso trata de abordar uma história da música a partir de duas premissas: as suas condições de produção articuladas com estruturas epistemológicas sobre a criação. Resulta assim, numa compartimentação não temporal e, também, aberta às diversas formas de expressão. Sempre entendendo a música como uma condição de práticas culturais, esse curso potencializa uma visão que, acima de tudo, trata de dissolver a autonomia da obra de arte como condição de estatuto de valor; pulveriza as fronteiras entre o erudito, popular, folclórico; valoriza a performatividade e o extramusical como base para o processo de significação da própria música como entidade sóciocomunicacional. Por fim, discute as suas condições e discursos sobre e na diversidade humana (raça, gênero, crença) e questiona as ideologias subjacentes às estruturas de dominação (os cânones) na "coordenação" sociocultural, a partir de uma organização por temas definidores de seu uso e valor.
1. Música e Sociedade: entre o surgimento da Ópera e a música na Era Digital a. Cultos i. Música na Era das Reformas ii. Racionalismo, Iluminismo e Cientificismo: a música como elemento de negação do espírito místico. iii. A reação Ultramontana: o Cecilianismo; o Motu Proprio Tra Le Sollicitudini (1903); Concílio Vaticano II (1962) iv. Do Calundu à música nos cultos neopentecostais: o caso brasileiro exemplificando a complexidade do espetáculo litúrgico v. A música no front dos fundamentalismos b. Espaços i. A ópera, o altar e o coreto: os caminhos de uma mesma música ii. A música palaciana: do culto ao Rei ao ideal da Cultura Artística iii. Academias de música: da Camerata Fiorentina à Música nas Universidades iv. O surgimento dos salões e da prática doméstica da música v. Os concertos públicos: a utopia aristocrática da burguesia vi. Música de rua: do teatro mambembe às bandas de garagem vii. Dos cabarets aos mega shows dos Pop Stars viii. Quebrando paredes e horizontalizando a recepção: a escuta no universo do streaming online ix. Música e cidade: os ambientes da criação dispersa c. Mapas: trânsitos e cronologias i. A ópera como agencia de uma grande diáspora musical: da Itália para os Musicais da Broadway ii. O surgimento do editor musical e o incremento da empresa musical iii. A Era dos Virtuoses: a música como espetáculo em trânsito iv. A formação do ideal do cânone da música ocidental v. Música nas diásporas do mundo moderno e contemporâneo: do colonialismo ao pós-colonialismo vi. Da Era do Rádio ao Mundo "Online": novas fronteiras de experiências musicais vii. Etnicidade e gênero: o novo mapa da música decolonizando o cânone viii. Quadro cronológico dos agentes musicais 2. Música e Ideias: da Era das Reformas à Era da Hiper-Realidade a. A música que significa i. O Renascimento declara que a música tem significação: de Josquin à Música Poetica de Listenius ii. Do Madrigalismo à ideia de fábula musical: o desenvolvimento da prática de significação da música iii. A formação dos "estilos" e suas taxonomias iv. Século XVII: a música como conjunção do Figurenlehre (o estilo, como forma de escrita) com o Affektenlehre (a expressão, tendo como suporte o afeto) v. O pensamento galante e o ideal da música eloquente: a música instrumental como projeção da música vocal vi. Século XIX e o mito da Música Absoluta: a subjetivação da significação e a formação do império da música instrumental vii. O retorno da retórica musical: do cinema ao marketing b. A descoberta das pluralidades i. Do Bel Canto aos nacionalismos ii. A estética dos cabarets e o encontro dos contrários: a música popular sai do limbo iii. A emergência do transcultural como o principal fenômeno da música no século XX: do Jazz ao Rap, passando pelo Rock and Roll iv. A Era dos Extremos: o mundo dos "ismos" v. A utopia da "implosão dos sentidos" na esteira do ideal iluminista: as múltiplas faces de uma guerra contra a massificação da arte vi. Música no processo de expressão de identidades num mundo da diversidade: do orientalismo à cultura sem fronteira do ciberespaço e a ideia da reciclagem digital (Remix, Deconstrumix, Turntablism etc) vii. Os desafios do músico diante das exigências da Economia Criativa: das ações preservacionistas à sobrevivência no mercado
ALLANBROOK, Wye Jamison. The Secular Commedia; Mimesis in Late Eighteenth-Century Music. Oakland: California: University of California Press, 2014 ANDERSON, Benedict. Imagined Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism. London, New York: Verso, 1983. ATTALI, Jacques. Noise: The Political Economy of Music. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1985. BARTEL, Dietrich. Musica Poetica; musical-rethorical figures in german baroque music. London: University of Nebraska Press, 1997 BONDS, Mark Evan. Wordless Rhetoric: Musical Form and the Metaphor of the Oration. Cambridge: Harvard University Press, 1991. ______, Absolute Music: A History of the an Idea. Oxford: Oxford University Press, 2014 BRAUNSCHWEIG, Karl. Genealogy and Musica Poetica. In Seventeenth- and Eighteenth-Century Theory. Acta Musicologica, vol. 73, no. 1, 2001, pp. 45–75. Disponível em: www.jstor.org/stable/932809. BORN, Georgina. Rationalizing Culture: IRCAM, Boulez, and the Institutionalization of the Musical Avant-Garde. Berkeley: University of California Press, 1995. BORN, Georgina & HESMONDHALGH, D. (eds) (2000) Western Music and its Others: Difference, Representation, and Appropriation in Music. Berkeley: University of California Press, 2000. BURNHAM, Scott. Beethoven Hero. Princeton: Princeton University Press, 1995 BYROS, Vasili. Meyer’s Anvil: Revisiting the Schema Concept. Music Analysis 31 (3): 273–346, 2012. CHAPIN, Keith. Learned Style and Learned Styles. In: Mirka, Danuta. The Oxford handbook of topic theory. New York, Oxford University Press, 2014. CHUA, Daniel. Absolute Music and the Construction of Meaning. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. CITRON, Marcia. Gender and the Musical Canon. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. CLAYTON, Martin, Trevor Herbert e Richard Middleton (eds.). The Cultural Study of Music, New York: Routledge, 2012 (2ª ed.). COOK, Nicholas. Analysing Musical Multimedia. Oxford: Oxford University Press, 1998. COOK, Nicholas e Mark Everist (eds.). Rethinking Music, Oxford: OUP, 2001. COVACH, Jonh. Jazz-Rock, “Close to the Edge”, and the Boundaries of Style. In: J.Covach & G.M.Boone (eds). Understanding Rock: Essays in Musical Analysis, Oxford: Oxford University Press, 1997. DAHLHAUS, Karl. Between Romanticism and Modernism. Trad. M.Whittall, Berkeley, London: University of California Press, 1989. ——. Nineteenth Century Music. Trad. J.B.Robinson, Berkeley, London: University of California Press, 1989a. DAVISON, Annette. Hollywood Theory, Non-Hollywood Practice: Cinema Soundtracks in the 1980s and 1990s. Aldershot: Ashgate, 2004 DeNORA, Tia. Music in Everyday Life. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. DOWNS, Philip. [1992] La Música Clássica; la era de Haydn, Mozart y Beethoven. Trad. Celsa Alonso. Madrid: Ediciones Akal, 1998 FERNANDES, Cristina. «Boa voz de tiple, sciencia de música e prendas de acompanhamento». O Real Seminário da Patriarcal, 1713-1834. Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal : INET-MD - Instituto de Etnomusicologia - Centro de Estudos de Música e Dança da Universidade Nova, 2013 FUBINI, Enrico. La Estética Musical desde la Antiguedad hasta el siglo XX. Madrid: Alianza Editorial, 1988. GJERDINGEN, Robert. Music in the Galant Style. New York: Oxford University Press, 2007 GRIFFITHS, Paul. Modern Music and After: Directions Since 1945. Oxford, New York: Oxford University Press, 1995. GROUT, Donald & PALISCA, Claude. História da Música Ocidental. 2ª ed. Lisboa: Gradiva, 2001. HATTEN, Robert. Musical Meaning in Beethoven: Markedness, Correlation, and Interpretation. Bloomington: Indiana University Press, 1994. HOBSBAWM, Eric. A História Social do Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1996 KENYON, Nicholas (ed.) Authenticity and Early Music. Oxford, New York: Oxford University Press, 1988. KERMAN, Joseph (1980). How We Got into Analysis, and How to Get Out’, in Write all These Down. Berkeley, London: University of California Press, 7, 311–31, 1994. KIVY, Peter. Osmin’s Rage: Philosophical Reflections on Opera, Drama, and Text , Princeton: University of Princeton Press, 1988. KRAMER, Laurence. Music as Cultural Practice 1800–1900. Berkeley, London: University of California Press, 1993. —— . Classical Music and Postmodern Knowledge. Berkeley and London, University of California Press, 1995. —— . Franz Schubert: Sexuality, Subjectivity, Song , Cambridge, Cambridge University Press, 1998. ——. The Mysteries of Animation: History, Analysis and Musical Subjectivity, Music Analysis 20/2, 153–78, 2001. MARTIN, Bill. Avant Rock: Experimental Music from the Beatles to Björk. Chicago: Open Court, 2002. McCLARY, Susan. Feminine Endings: Music, Gender and Sexuality. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1991. MEYER, Leonard. Style and Music: Theory, History and Ideology. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1989. MICHELS, Ulrich. Atlas de Música. Madrid: Alianza, 1996, vol.1. MIDDLETON, Richard. Studying Popular Music. Milton Keynes: Open University Press, 1990. MIRKA, Danuta. The Oxford handbook of topic theory. New York: Oxford University Press, 2014. MONELLE, Raymond. Theorizing Music: Text, Topic, Temporality. Bloomington: Indiana University Press, 1998 PALISCA, Claude. The Norton Anthology of Western Music. 4ª ED. New York, W.W. Norton & Company, 2001. PERETTI, Burton. The Creation of Jazz: Music, Race, and Culture in Urban America. Chicago: University of Illinois Press, 1994 RATNER. Leonard G. Classic Music: Expression, Form, and Style. S.l.: Schimer Books, 1980. SANSON, Jim. Virtuosity and the Musical Work: The Transcendental Studies of Liszt. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. STOKES, Martin. Ethnicity, Identity, and Music: The Musical Construction of Place. Oxford: Berg, 1994 SUBOTNIK, Rose. Developing Variations: Style and Ideology in Western Music. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1991. TAGG, Philip. ‘“Black Music”, “Afro-American Music” and “European Music”’, Popular Music 8/3, 285–98, 1989. THORNTON, Sarah. Club Cultures: Music, Media and Subcultural Capital. Cambridge: Polity Press, 1995. TOMLINSON, Gary. Music in Renaissance Magic: Toward a Historiography of Others. Chicago, London: University of Chicago Press, 1984. TREITLER, Leo. Music and the Historical Imagination. Cambridge, Mass.: HUP, 1990. WEBER, Willian. The History of Musical Canon. In: N.Cook & M.Everist (eds), Rethinking Music. Oxford, New York: Oxford University Press, 1999.