Discutir perspectivas antropológicas para o estudo de experiências de "desenvolvimento" entre povos indígenas e/ou comunidades ditas “tradicionais”. Uma primeira parte do curso aborda a noção de desenvolvimento como uma linguagem e um campo de comunicação. Segue a discussão de algumas abordagens renovadas para os estudos do “contato”, focando relações entre povos indígenas e contextos de “globalização”. Uma terceira parte do curso será dedicada à apresentação e discussão de experiências localizadas de “projetos de desenvolvimento”, avaliando-se critérios utilizados para abordar problemas locais e demandas indígenas de auto-sustentação e autodeterminação. Um último bloco do curso será dedicado à problemática dos conhecimentos “tradicionais” e servirá de introdução à discussão dos impactos das políticas de patrimonialização cultural, bem como à complexa questão dos direitos intelectuais.
O ponto de partida é o debate mundial sobre povos "autoctones" (4% da população mundial) e desenvolvimento, que enfatiza a relação direta entre perda de controle territorial e perda de autonomia cultural e política desses povos. Ao olharmos para a interpretação dessas situações, constata-se que as experiências de retomada de controle desses povos sobre seus recursos territoriais e a concomitante afirmação de que autonomia tem sido tratados, tanto no campo indigenista quanto da antropologia, enquanto "movimentos de resistência". Pretende-se discutir a insuficiência desta abordagem para a naálise das demandas e interesses dos povos indígenas, a partir de uma releitura de algumas perspectivas antropológicas sobre o contato interétnico, de concepções acerca da economia primitiva e das críticas ao determinismo ecológico. Também serão discutidos programas propostos para uma "antropologia do desenvolvimento", focalizando o papel do antropólogo e da interdisciplinaridade no quadro da atual revisão que a etnologia brasileira realiza acerca das abordagens tradicionais da "questão indígena".
A seguir, textos para leitura obrigatória. A lista completa de textos para leitura complementar e apresentação em seminários será fornecida no inicio do semestre.Introdução: os discursos do desenvolvimentoDuas sessões1. Barreto, Henyo Trindade. Os predicados do desenvolvimento e a noção de autoctonia. Tellus, ano 6, vol.10, 2006. 2. Perrot, Dominique. Quem impede o desenvolvimento circular? Desenvolvimento e povos autóctones, paradoxos e alternativas. Revista Cadernos de Campo, n.17, 2008.3. Escobar, Arturo. El “postdesarollo” como concepto y practica social. In: Daniel Mato (coord.), Políticas de economía, ambiente y sociedad en tiempos de globalización. Caracas: Facultad de Ciencias Económicas y Sociales, Universidad Central de Venezuela, pp. 17-31, 2005.4. Ribeiro, Gustavo Lins. Poder, redes e ideologias no campo do desenvolvimento. Novos Estudos, vol 80, CEBRAP, 2008.Primeira parte: “Identidades passadas, presentes e emergentes”Duas sessões5. Marcus, George. – Identidades passadas, presentes e emergentes: requisitos para etnografias sobre a modernidade no final do século ao nível mundial – Revista de Antropologia, vol.34, 1991. 6. Sahlins, Marshall - O "pessimismo sentimental" e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um "objeto" em via de extinção (partes 1 e 2) - Mana 3/1 e 3/2, 1997.7. Boccara, Guillaume – Antropologia diacrônica. Dinámicas culturales, procesos históricos y poder político. Nuevo Mundo Mundos Nuevos. EHESS, Paris, 2005.8. Carneiro da Cunha, Manuela & Almeida, Mauro. Populações tradicionais e conservação ambiental. In: Cultura com aspas, Cosac Naify, 2009 (277-300).Segunda parte: “Projetos é como branco trabalha”Quatro sessõesNesta 2ª parte do curso, cada aluno deverá escolher um texto referente à análise critica de experiências de desenvolvimento / projetos, para apresentação individual, ao longo de quatro sessões de seminários. Seguem os textos indicados para leitura obrigatória.9. Baniwa, Gersen. Projeto é como branco trabalha; as lideranças que se virem para aprender e nos ensinar: experiências dos povos indígenas do Rio Negro. Dissertação de Mestrado – UNB. 2006 (capitulo a selecionar).10. Souza Lima, A.C. & Barroso-Hoffmann, M. – Questões para uma política indigenista: etnodesenvolvimento e políticas públicas, uma apresentação – In: Etnodesenvolvimento e políticas públicas. Contra Capa Ed. e LACED, 2002. Terceira parte: conhecimentos tradicionais e propriedade intelectual Quatro sessõesNesta 3ª parte do curso, também poderão ser apresentados estudos de caso, em seminários. Seguem os textos para leitura obrigatória.11. Roué, Marie. Novas perspectivas em etnoecologia: “saberes tradicionais” e gestão de recursos naturais. In: Castro E & Pinton E. (orgs.). (orgs.). Faces do Trópico Úmido: conceitos e novas questões sobre desenvolvimento e meio ambiente. Belém: Cejup-UFPA-NAEA, 1997.12. Saez, Oscar Calavia. Prometeo de pie. Alternativas étnicas y éticas a la apropriación del conocimiento. ABA, mimeo, 2001.13. Agrawal, Arun. El conocimiento indígena y la dimensión política de la classificación. Revista Internacional de Ciencias Sociales, vol.173. set.2002.14. Carneiro da Cunha, Maria Manuela. Relações e dissenções entre saberes tradicionais e saber científico. In: Cultura com aspas, Cosac Naify, 2009 (301-310). 15. Carneiro da Cunha, Maria Manuela. “Cultura” e cultura: conhecimentos tradicionais e direitos intelectuais. in: Cultura com aspas, Cosac Naify, 2009 (311-373).