Trata-se, em primeiro lugar, de discutir contribuições da Antropologia para a análise da dinâmica cultural e das relações entre cultura e política, focalizando debates e pesquisas em torno da politização das noções de identidade e diferença. Procura-se recuperar uma parte do debate teórico-metodológico “clássico” da disciplina no entendimento da produção de identidades e da mudança cultural, bem como da relação mais geral entre ordem simbólica e agência, destacando referências que influenciaram tendências na antropologia das “sociedades complexas” praticada no Brasil nos anos 80, no estudo de populações urbanas (Partes I e II). Em segundo lugar, como os debates e pesquisas em torno de formas de expressão política ligadas às identidades e/ou diferenças grupais cada vez mais tendem a compor grandes áreas interdisciplinares com diferentes concentrações de interesse (identidade cultural, “raça”, gênero e sexualidade, entre outras), abre-se no curso uma janela para o diálogo com campos disciplinares afins (sociologia, ciência política, história, “estudos culturais”), especialmente no que diz respeito à compreensão das relações contemporâneas entre lugares, culturas, identidades, diferenças e seus sentidos políticos (Parte III).
Parte I – Questões teórico-metodológicas no estudo das relações entre cultura, “identidades” e política na Antropologia: algumas formulações “clássicas”1. Dinâmica cultural e análises situacionais• GLUCKMAN, M. “Análise de uma situação social na Zululândia Moderna” (parte I). In: Feldman-Bianco, Bela, org., Antropologia das sociedades contemporâneas: métodos. São Paulo: Global, 1987. • DURHAM, E., “A dinâmica cultural na sociedade moderna”. Ensaios de Opinião, nº 2+2, 1977• Leituras complementares: MALINOWSKI, B. “A coleta e a interpretação dos dados empíricos”. “O papel do mito na vida”. In: Durham, E.,org., Malinowski. São Paulo: Ática, 1986, caps. 8-9; MITCHELL, J. Clyde. “The kalela dance”. The Rhodes Livingstone Paper , nº 37, 1956; Leitura complementar:.2. Estruturas como ficções• LEACH, E. Sistemas políticos da Alta Birmânia. São Paulo: Edusp, 1995. “Introdução”, cap. 1,. “Gumsa e gumlao”, cap. 6; “O mito como justificação do faccionarismo e da mudança social”, cap. 9.• Leitura complementar: SIGAUD, L. “Apresentação”. In: Leach, E., Sistemas políticos da Alta Birmânia. São Paulo: Edusp, 1995.3. Sistemas simbólicos e ideologias políticas (duas aulas)• LÉVI-STRAUSS, C. “A ciência do concreto”. In: O pensamento selvagem, cap. 1.• GEERTZ, C. “Religião como sistema cultural”. In: A interpretação das culturas, cap. 4.• GRAMSCI, A. “Alguns pontos preliminares de referência”. In: Concepção dialética da história, I, 1.• DURHAM, E. “Cultura e ideologia”. Dados, vol 27, n° 1, 1984.Parte II – Identidade e diferença: da “etnicidade” à análise de representações e práticas de populações urbanas5 . A questão da identidade étnica (duas aulas)• BARTH, F. “Os grupos étnicos e suas fronteiras” In: O guru, o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: Contracapa, 2000.• CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. “Etnicidade” (Bloco de 4 textos) In: Antropologia do Brasil. São Paulo, Brasiliense/Edusp, p.85-119.• Leitura complementar: LÉVI-STRAUSS, C. L’identité. Paris, Grasset, 1977.6. Identidade (e diferença) em dois estudos brasileiros de populações urbanas dos anos 80 (duas aulas)• ZALUAR,.A. A máquina e a revolta. São Paulo, Brasiliense, 1985. “O antropólogo e os pobres: introdução metodológica e afetiva”; “Trabalhadores e bandidos: identidade e discriminação”; “Os vizinhos e os outros: organizações populares”; “Os vizinhos, o povo e os políticos”.• Leitura complementar: ZALUAR, A. “Teleguiados e chefes: juventude e crime”. In: Condomínio do diabo, Rio de Janeiro: Revan/Ed. da UFRJ, cap.12.• PERLONGHER, Nestor. O negócio do michê. São Paulo, Brasiliense, 1987. “Introdução”; “Territórios e populações”; “Derivas e devires”, “As transas”.• Leitura complementar: FRY. P. “Da hierarquia à igualdade: a construção histórica da homossexualidade no Brasil” In: Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira, cap. 4.Parte III – Mundos em pedaços?: Lugares, culturas, identidades7. Fluxos culturais, disjunções, “hibridações”, “pós-colonialismo”. (duas aulas)• APPADURAI, A. “Disjunção e diferença na economia cultural global”. In: Featherstone, M., org., Cultura global. Petrópolis, Vozes, 1994, p. 311-327.• HANNERZ, Ulf. “Fluxos, fronteiras, híbridos: palavras-chaves da antropologia transnacional.”. Mana, vol. 3, nº 1, abril 1997.• BHABHA, H. “A outra questão: o estereótipo, a discriminação e o discurso do colonialismo”. In: O local da cultura. Belo Horizonte, Ed. UFMG., 1998, cap. 3.• Leitura complementare: SAID, E. “Introdução”. In: Orientalismo. São Paulo, Cia. das Letras, 1990.8. Culturas, identidades e diferenças (duas aulas)• HALL, S., “Quem precisa de identidade?”. In: Silva, Tomaz, T. , org. Identidade e diferença. Petrópolis, Vozes, 2000, p.103-133.• KUPER, A. “Cultura, diferença, identidade”. In: Cultura: a visão dos antropólogos, Bauru: EDUSC, 2002, cap.7.• AGIER, M. “Distúrbios identitários em tempos de globalização”. Mana, vol. 7, n° 2, 2001.• Leitura complementar: HALL, S., Identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP&A, 1998.9. Disjunções, fluxos culturais, identidades e diferenças – voltando à antropologia das sociedades complexas à brasileira...• CALDEIRA, Teresa. “Violência, o corpo incircunscrito e o desrespeito aos direitos na democracia brasileira.” In: Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo, Edusp/Ed. 32, cap.9.• GOLDSTEIN, Donna. Por que os homens não envelhecem? Violência, morte, conversão religiosa e vida cotidiana nas favelas do Rio de Janeiro. In: Debert, G. & Goldstein, D., orgs., Políticas do corpo e o curso da vida. São Paulo, Ed. Sumaré, 2001. cap. 1.10. Questões de identidade e diferença nos estudos de gênero e sexualidade (duas aulas)• MOORE, H. “Compreendendo sexo e gênero” (tradução para uso didático)• BUTLER, J. “Sujeitos do sexo/gênero/desejo”. In: Problemas de gênero. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003, cap. 1.• BUTLER, J. “Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In; Louro, Graça L., org. O corpo educado. Belo Horizonte, Autêntica, 1999.• Leituras complementares: FOUCAULT, M. “Soberania e disciplina”; “Sobre a história da sexualidade. In: Microfísica do poder, Rio de Janeiro: Graal, caps 12 e 16.; HARAWAY, D. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo socialista. In: Antropologia do ciborgue, Belo Horizonte, Autêntica, 2000. ALMEIDA, H. et al., orgs., Gênero em matizes. Bragança Paulista, EDUF, 2002.
Vide programa.