O ponto de partida de curso é o caráter ambíguo que a “sexualidade primitiva” passou a assumir para a intelectualidade européia e norte-americana nas primeiras décadas do século XX, facilitando o desenvolvimento de “estratégias anti-coloniais” por parte de nações “periféricas”, como o Brasil. Note-se que a “sexualidade primitiva” já traz embutida a hierarquia racial e de gênero. Mais especificamente, focalizaremos a “engenharia simbólica” através da qual tais nações se apropriaram de idéias e autores (descartando uns e relendo outros) para afirmar a “viabilidade” de suas nações (exemplar nesse sentido é o uso que fez Gilberto Freyre das obras de Havelock Ellis, Ernest Crawley e Edward Westermarck, cujos escritos se opunham à idéia de “promiscuidade primitiva”, tão em voga entre seus antecessores).
O presente curso tem por objetivo analisar a inter-relação das idéias de raça, gêmero, sexualidade e identidade nacional, conforme pensadas pelas elites intelectuais “metropolitanas” desde finais do século XIX (nesse sentido, serão revisitados alguns clássicos da antropologia e da sexologia européias) e seus reflexos em contextos “periféricos”. Abordaremos tanto as políticas que certas “metrópoles” implantaram para a regulação do comportamento sexual em suas “colônias” (incentivando ou proibindo a miscigenação, por exemplo), quanto a apropriação que delas fizeram as elites locais. As noções de “centro” e “periferia” ou “colônia” e “metrópole” serão compreendidas como pólos ideais de um campo instável e hierarquizado, no qual está em questão o acesso diferenciado a fontes de poder e prestígio. Nessa perspectiva, fronteiras sociais e simbólicas serão consideradas muito mais móveis e dinâmicas do que supõe o modelo estático de uma metrópole irradiando suas idéias e formas de poder para suas colônias.
Vide acima
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