Este curso tem por objetivo a leitura dos ensaios de Pierre Clastres contidos nas coletâneas A sociedade contra o Estado (de 1974) e Arqueologia da violência (de 1980), tendo como foco a sua análise realizada a partir dos materiais etnográficos sobre os povos indígenas da América do Sul. O curso deverá se centrar nos múltiplos alcances da idéia de “sociedade contra o Estado”, levando em conta o desenvolvimento pelo autor de uma reflexão sobre a “filosofia da chefia ameríndia” e sobre o papel da guerra na produção da “sociedade primitiva”, esta que é menos uma realidade empírica do que uma disposição perante o poder político. Inclui-se entre estes temas o da relação entre o “político” e o “religioso”, o que remete ao trabalho de Hélène Clastres, A terra sem mal (de 1975), sobre o profetismo tupi-guarani, trabalho que inflete certamente nas reflexões de Pierre Clastres. Além da leitura dos textos de Clastres serão intercalados textos teóricos e etnográficos menos ou mais recentes, todos eles se dispondo a testar os limites desta obra, que faz cruzar antropologia e filosofia, etnografia e comparação, ensaio e sistematização científica.
1. A antropologia política antes de Clastres2. O projeto de antropologia política de Clastres3. A filosofia da chefia ameríndia4. O problema do profetismo tupi-guarani5. A máquina de guerra6. A arqueologia e a história “contra” Clastres7. O “contra o Estado” e as ontologias ameríndias
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