Ao explorar as emoções e a moral de um ponto de vista sócio-antropologico, político e histórico espera-se dar inteligibilidade a processos sociais e a construções de coletividades, identidades e sujeitos que se posicionam de modo político e subjetivo a partir de experiências de dor e sofrimento. Pretende-se, portanto retirar as emoções da sua zona de conforto – a ordem do privado – e interpelá-la enquanto uma prática discursiva, permeada por relações de poder, que conforma sujeitos, políticas e coletividades.
Esta disciplina tem por objetivo abordar temáticas presentes, mas em parte resistentes às análises antropológicas como a emoção e a moral. O foco deste curso incidirá sobre a dimensão micro-politica da emoção, dos sentimentos e da moral na (re)construção do tecido social, especialmente em contextos sociais expostos a um tipo de violência reconhecida “sob o signo do horror”, como o apartheid, por exemplo. Neste sentido, dor, ressentimento, perdão e reconciliação, compaixão e desprezo serão explorados e analisados tanto da forma como ecoam nas relações pessoais e nas negociações cotidianas (na domesticação ou não da violência e do racismo, por exemplo) quanto nos eventos políticos mais amplos (desde revoltas populares às comissões de verdade).
- Emoção e moral do ponto de vista antropológico - Dimensão micro-política dos sentimentos, da emoção e da moral - Marcadores sociais da diferença (raça/racismo, sexualidade, homossexualidade, gênero) - Processos de reconstituição do tecido social e Comissões Verdade (Alemanha, Índia, África do Sul, Serra Leoa, Brasil, Argentina e Chile) - Reflexões sobre a economia moral contemporânea em diferentes contextos - (Des)construção de reputações: rumores, honra e vergonha; a construção de si
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