Esta disciplina tem por objetivo abordar temáticas presentes, mas em parte resistentes às análises antropológicas como a emoção e a moral. O foco deste curso incidirá sobre a dimensão micro-politica da emoção, dos sentimentos e da moral na (re)construção do tecido social, especialmente em contextos sociais expostos a um tipo de violência reconhecida “sob o signo do horror”, como o Apartheid, por exemplo. Neste sentido, dor, ressentimento, perdão e reconciliação, compaixão e desprezo serão explorados e analisados tanto da forma como ecoam nas relações pessoais e nas negociações cotidianas (na domesticação ou não da violência e do racismo, por exemplo) quanto nos eventos políticos mais amplos (desde revoltas populares às comissões de verdade).
Ao explorar as emoções e a moral de um ponto de vista sócio-antropologico, político e histórico espera-se dar inteligibilidade a processos sociais e a construções de coletividades, identidades e sujeitos que se posicionam de modo político e subjetivo a partir de experiências de dor e sofrimento. Pretende-se, portanto retirar as emoções da sua zona de conforto – a ordem do privado – e interpelá-la enquanto uma prática discursiva, permeada por relações de poder, que conforma sujeitos, políticas e coletividades. Eixos: possibilidades sociais de expressão da dor e do sofrimento; (des)construindo reputações: rumores, honra e vergonha; a construção de si; marcadores sociais da diferença; políticas de raça, gênero, sexualidade e identidades nacional: sob a ótica do sofrimento, da moral e da compaixão.1) A moral e as emoções sob o olhar antropológico: tensões, definições, perspectivasFassin, Didier. “Beyond good and evil? Questinoning the anthropological discomfort with morals”. Anthropological theory, vol. 8, no 4, pp. 225-246, 2011.Lutz, Catherine e White, Geoffrey. “The Anthropology of Emotions”. Annual Review of Anthropology, 15. 1986. pp 405-436Scott, Joan. “A Invisibilidade da Experiência”. In: Proj.História, São Paulo (16), fev. 1998, pp.297-325.2) A metrópole e o contexto colonial: articulando marcadores sociais da diferença em perspectiva comparada internacional Michel Foucault. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1977.Michel Foucault. “Aula de 17 de março de 1976”. In: Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2002. pp. 285-315. Anne McClintock. Couro Imperial: raça, gênero e sexualidade no embate colonial. Editora Unicamp: Campinas, 2010. Gail Bederman. Manliness and Civilization: A Cultural History of Gender and Race in the United States 1880-1917 . Chicago Press, Chicago and London. 3) O Processo civilizatório e a construção de si Norbert Elias. O Processo Civilizador: uma história dos Costumes. Jorge Zahar Editor: Rio de Janeiro. 1990.Norbert Elias. Os Alemães: A luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1997. Norberto Elias. A Solidão dos Moribundos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2001.Exibição do documentário Ghana, sépultures sur mesure, de Philippe Lespinasse (France - 2009 - 52 min). Debate sobre luto, dor e “a expressão obrigatória dos sentimentos”. Leitura: MAUSS, Marcel. “A expressão obrigatória de sentimentos” In Marcel Mauss: antropologia. Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: Ática, 1979, p. 147 a 153.4) Sobre burocracia Hannah Arendt. “Raça e burocracia”. In: As origens do Totalitarismo: Anti-semitismo, Imperliasmo e Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. pp.215\252.Mark GRAHAM. “Emotional Bureaucracies: Emotions, Civil Servants, and Immigrants in the Swedish Welfare State”. Ethos, 30 (3), p. 199-226, 2003.Akhil Gupta. Red Tape: burocracy, structural violence, and Poverty in India. Duke University: London, 2012. pp.141-232 (cap.5 e 6)5) O direito à diferença: o debate contemporâneo em uma perspectiva comparada internacionalAdam Kuper. O retorno do nativo. Horiz. antropol. [online]. 2002, vol. 8, no. 17, pp. 213-237. Peter Fry. Culturas da Diferença: seqüelas das políticas coloniais portuguesas e britânicas na África Austral. Revista Afro-Ásia. Números 29/30 (2003):271-316.6) sobre a razão humanitáriaDidier Fassin. “Compassion and repression: The moral economy of immigration policies in France”. Cultural Anthropology, v. 20, n. 3, august, 2005. pp. 362-387. Laura Moutinho. “Sobre danos, dores e reparações: The Moral Regenaration Movement – controvérsias morais e tensões religiosas na ordem democrática sul-africana”. (Org. Wilson Trajano Filho) Travessias antropológicas: estudos em contextos africanos. Brasília: ABA Publicações, 2012. 7) Cultural Anesthesia? Hannah Arendt. Eichmannn em Jerusalém: Um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Cia. das Letras, 1999. (Cap. 1\15 – Epílogo)Allen Feldman. On Cultural Anesthesia: From Desert Storm to Rodney King. American Ethnoligist 21 (2): 404-418.Wilson Trajano Filho. “Outros rumores de identidade na Guiné-Bissau”. Série Antropologia, 279. Brasilia: DAN-UnB, 2000.Veena Das. 1998. “Official narratives, rumor, and the social production of hate”. Social Identities, 4 (1):109-130.Adriana Vianna e Juliana Farias. A guerra das mães: dor e política em situações de violência institucional. Cadernos Pagu (UNICAMP. Impresso), v. 37, p. 79-116, 2011.8) On how people are made – 1 Ruth Morgan & S. Wieringa. Tommy Boys, Lesbian Men and Ancestral Wives: female same-sex practices in Africa. Jacana Media: Johannesburg, 2005.Michael Pollak & Marie-Ange Schiltz. “Les homosexuals français face au sida. Modifications des pratiques sexuelles et émergence de nouvelles valeurs”. Anthropologie et Sociétés, 15/2-3 L´Univers du Sida., 1991. pp 53-62Adriana Romano Athila. "How are people made? Gender, difference and ethnography in an Amazonian indigenous society". In: Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, v. 7, n. 1., Brasília, ABA. January to June 2010. Lux Vidal "A commentary on Adriana Athila’s article “How are people made? Gender, difference and ethnography in an Amazonian indigenous society". In: Vibrant – Virtual Brazilian Anthropology, ABA, Brasília, v. 7, n. 1. January to June 2010. 7) On how people are made – 2 Erving Goffman. A representação do Eu na vida cotidiana. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1985.Pedro Lopes & Laura Moutinho. “Uma Nação de Onze Línguas? Diversidade social e Linguística nas novas configurações de poder na África do Sul”. Revista TOMO, Vol. 20\UFS, 2012.Antonio Sergio Guimarães. Preconceito Racial: modos, temas e tempos. 1. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2008. Virgínia Leone Bicudo. Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo. (Org. Macos Chor Maio). São Paulo: Editora Sociologia e Política, 2012.Leo Spitzer. Vidas de Entremeio: assimilação e marginalização na Áustria, no Brasil e na África Ocidental (1780-1945). EdUERJ: Rio de Janeiro, 2001. Capítulos: “Situação de marginalidade, psicologia individual e ideologia” e Não pertenço a lugar algum e por toda parte sou um estranho”: as tribulações de André Rebouças, Cornelius May e Stefan Zweig”.
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