Interessa-nos tomar as cidades como espécies de contextos totalizantes, assinalados por linhas de força amplamente diversificadas e heterogêneas, em que o enfrentamento etnográfico constitui uma prática decisiva na reconstituição de redes de relações e conexões, dadas a princípio pelos próprios citadinos, em suas relações com equipamentos e artefatos urbanos. Tais práticas etnográficas devem preferencialmente se assentar em uma dada territorialidade ou espacialidade, a partir das quais se consiga investigar, de forma articulada, seus aspectos mais relevantes e recorrentes, que se abrem para aprofundamentos em múltiplas direções, mas com um núcleo relacional que permita acumular saberes resultantes de cruzamentos de recortes, que enfim configuram a cidade, em sua diversidade e densidade constitutivas.
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Na primeira parte, após breve introdução sobre a prática etnográfica, será feita uma ampla discussão sobre a antropologia urbana brasileira, através do exame de investigações que dialogam com essa tradição. Na segunda parte, serão abordadas questões voltadas (ainda que não exclusivamente) à antropologia da cidade, em debate com autores nacionais e estrangeiros, para uma compreensão mais detida do caráter relacional de modalidades de interação no contexto urbano.
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