O curso tem como objetivo central lançar uma reflexão ampliada sobre a noção de criação, afastando-a das trilhas correntes que tendem a associá-la ao engenho inventivo de um sujeito (individual ou coletivo), e à elaboração de coisas novas em função de projetos que incidem sobre o mundo ao redor. O intuito é testar os rendimentos analíticos da noção quando experimentada em domínios outros, alargando-a com o auxílio de pesquisas realizadas em terrenos variados: criação de gentes, animais, roças, objetos etc. Em um segundo tempo, trata-se de focalizar as artesanias que, interpretadas à luz dessa série semântica ampliada, logram separar-se de vias interpretativas usuais que as associam, de um lado, à “tradição” e, de outro, às identidades e resistências. Menos do que negar a importância das discussões existentes, o intuito é deslocar a reflexão, com o auxílio de análises variadas, que auxiliarão, entre outras coisas, a que procedamos ao escrutínio crítico de categorias tais como “arte popular”, “arte primitiva”, “folclore”, “artesanato”, “tradição” etc.
Criação, criatividade, invenção, imaginação Artes da criação, artes da memória Criar, transformar, recriar Técnica, trabalho, materiais, materialidades Paisagens e cartografias criadoras O agricultor, o artesão, o artista Produção, circulação, exibição
O trabalho a ser realizado no semestre pretende recuperar discussões clássicas, modernas e contemporâneas sobre criação, invenção e criatividade; criação e imaginação; criação e memória; técnica e trabalho. A ideia é associar textos de timbre mais teórico a leituras de etnografias que se debruçam sobre o problema da criação, ou que tocam nele, lançando sugestões para uma reflexão que se quer ampliada, e que coloca a sua atenção nos processos criadores (making e becoming). Afinal, as ars da criação obrigam a considerarmos múltiplos agentes, capacidades, ações, composições; envolve humanos e não humanos, corpos e gestos, concepções e elaborações que se mostram inseparáveis dos fazeres, das paisagens e do trato com materiais específicos. Nesse sentido, e assim consideradas, elas nos obrigam a borrar diversos divisores, como aqueles que separam não apenas o “popular” e o “erudito”, mas também as artes e ofícios, a prática e o pensamento.
APPADURAI, ARJ. A vida social das coisas. As mercadorias sob uma perspectiva cultural. Tradução Agatha Bacellar, Niterói, EDUFF, 2008 BENJAMIN, Walter. Rua de mão única. Obras escolhidas, vol. II. Tradução Rubens R. T. Filho e José Carlos M. Barbosa. Brasiliense, 1995 BOAS, F. Primitive art, New York, Dover Pub. Inc., 1955 BURKE, P. Cultura popular na idade moderna, São Paulo, Companhia das letras, 1999 CARVALHO, V. Gênero e artefato, São Paulo, EDUSP, 2008 CERQUEIRA, A. C. O ‘povo’ parente dos Buracos, mexida de prosa e cozinha no cerrado mineiro. Tese de doutorado, Museu Nacional, PPGAS, 2010 CERTEAU, M. de. L’Invention du quotidien, Paris, 1980 CLASTRES, P. “O arco e o cesto” In: A sociedade contra o Estado, São Paulo, Cosac Naify, 2003 CURRUTHERS, Mary. A técnica do pensamento. Tradução José Emílio Maiorino. Campinas, editora da Unicamp, 2011 CURRUTHERS, Mary. Le livre de la mémoire. Traduit par Diane Meur. Paris, Macula, 2002 DETIENNE, Marcel & VERNANT, J.P. Les ruses de l’intelligence. La mètis des Grecs, Paris, Flammarion, 1974 DESCOLA, P. “Genealogia de objetos e antropologia da objetivação”, Horizontes antropológicos, vol. 8, n.18, 2002, p. 93-112 DIDEROT, D. & Jean L.R., D’ALEMBERT. Encyclopédie (https://gallica.bnf.fr/conseils/content/lencyclopédie-de-diderot-et-d’alembert) FABIAN, J. Remembering the presente. Painting and popular history in Zaire, University of California Press, 1996 FABIAN, J. “On recognizing things: the ‘ethnic artefact’ and the ‘ethnographic objetc’”, L’Homme, 70, p. 47-60, 2004 GARCIA, U. Crônicas de caça e criação, São Paulo, Hedra, 2018 GELL, Alfred. Art and agency. An anthropological theory, Oxford, Clarendon Press, 1998 GELL, Alfred. “A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia”, Ilha, n. 1, n. 8, 2005 GOW, P. 1995. Creations of the rainbow serpent: polychrome ceramic designs from ancient Panama. Albuquerque, University of New Mexico Press GLOWCZEWSKI, B. Rêves en colère avec les aborigènes australiens, Paris, Plon 2004 GLOWCZEWSKI, B. Devires totêmicos, São Paulo, N-1, 2015 HALLAM, E. & INGOLD, T. Making and growing, Ashgate, 2014 HAUDRICOURT, A. Des gestes aux techniques, Versailles, Quae HEIDEGGER, M. “A questão da técnica”, Scientiae Studia 5 (3), p. 369-374 HENARE, A., HOLBRAAD, M.& WASTELL, S. (eds). Thinking throught things: theorising artefacts ethnographically, London, Routledge, 2007 HERZFELD, M. The body impolitic. Artisans and artifices in the global hierachy of value, The University of Chicago Press, 2004 INGOLD. T. The perception of environment, essays in livelihood, dwelling and skill, London, Routledge, 2000 LAGROU, Els. A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica, Rio de Janeiro, Topbooks, 2007 LEACH, J. “Modes of creativity” In: HIRSCH E. & STRATHERN, M. (eds). Transactions and creations: property debates adn the stimulus of Melanesia, New York, Bergan Books, 2004 LEROI-GOURHAM, A. Le geste et la parole, Paris, Albin Michel, 1964, 2 vols. LÉVI-STRAUSS, C. Tristes tropiques, Plon, 1955 LÉVI-STRAUSS, C. A via das máscaras, Lisboa, editorial presença, 1979 LÉVI-STRAUSS, C. Regarder, écouter, lire, Paris, Plon, 1993 LOHMANN, R. I. “The anthropology of creations”, Anthropological forum, vol. 20, n.3, 2010, p. 215-234 MALINOWSKI, M. Coral gardens and their magic, London, George Allen & Unwin ltd., 1935 MARGIOTTI, M. “Clothing Sociality: Materiality and the Everyday Among the Kuna of Panama. Journal of Material Culture, 18(4), 2013, p. 89-407 MARQUES, A. C. & LEAL, N. S. (orgs). Alquimias do parentesco: casas, gentes, papéis, territórios, São Paulo, Gramma/ Terceiro Nome, 2018 MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas e “As técnicas do corpo” In: Sociologia e antropologia, São Paulo, Cosac & Naify, 2003 MILLER, D. (ed). Material cultures: how things matter, UCL Press, 1998 OVERING, J. “A estética da produção: o sentido de comunidade entre os Cubeo e os Piaroa”, Revista de Antropologia, n. 34, São Paulo, USP, 1991, p. 7-33 OVERING, J. “Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica”, MANA 5 (1), 1999, p. 81-107 OVERING, J. “O fétido odor da morte e os aromas da vida. Poética dos saberes e processo sensorial entre os Piaroa da Bacia do Orinoco”, Revista de Antropologia, USP, São Paulo, vol. 49, n. 1, 2006, p. 19-54 PAZ, O. “El uso y la contemplación”, Revista colombiana de psicologia, 1988, p. 120-125 ROSSER, Gervase, “Crafts, guilds and the negociation of work in the medieval town”, Past and present, n. 154, 1997 SENNETT, Richard. The craftman, Yale University Press, 2008 SAUTCHUK, Carlos E. “Aprendizagem como gênese: prática, skill, individuação”, Horizontes antropológicos, 21 (44), 2015, p. 109-139 SAUTCHUK, Carlos E. (org). Técnica e transformação: perspectivas antropológicas, Brasília, ABA Publicações, 2017 SIMONDON, G. Du mode d’existence des objets techniques, Paris, Aubier, 1958 SIMONDON, G. L’invention dans les techniques. Cours et conférences. Paris, Seuil, 2005 SIMONDON, G. Imagination et invention (1965-1966), Paris, Les éditions de la transparence, 2008 SIMONDON, G. Sur la technique, Paris, PUF, 2014 TAYLOR, A-C. & DUFRÈNE, T. Cannibalismes disciplinaires. Quand l’histoire de l’art et l’anthropologie se rencontrent, Paris, INHA/ Musée du quay Branly, 2007 TSING, A. The mushroom at the end of the world, Pricenton University Press, 2015 VANDER VELDEN, F.F. Inquietas companhias: sobre os animais de criação entre os Karitiana, São Paulo, Alameda, 2012 VERNANT, Jean-Pierre. “O trabalho e o pensamento técnico” in: Mito e pensamento entre os gregos. Tradução Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990 WAGNER, R. A invenção da cultura, São Paulo, Cosac Naify, 2010 WARNIER, Jean-Pierre. Construire la culture matérielle. L'homme qui pensait avec ses doigts, Paris, PUF, 1999 DETIENNE, Marcel & VERNANT, J.P. Les ruses de l’intelligence. La mètis des Grecs, Paris, Flammarion, 1974 DESCOLA, P. “Genealogia de objetos e antropologia da objetivação”, Horizontes antropológicos, vol. 8, n.18, 2002, p. 93-112 DIDEROT, D. & Jean L.R., D’ALEMBERT. Encyclopédie (https://gallica.bnf.fr/conseils/content/lencyclopédie-de-diderot-et-d’alembert) FABIAN, J. Remembering the presente. Painting and popular history in Zaire, University of California Press, 1996 FABIAN, J. “On recognizing things: the ‘ethnic artefact’ and the ‘ethnographic objetc’”, L’Homme, 70, p. 47-60, 2004 GARCIA, U. Crônicas de caça e criação, São Paulo, Hedra, 2018 GELL, Alfred. Art and agency. An anthropological theory, Oxford, Clarendon Press, 1998 GELL, Alfred. “A tecnologia do encanto e o encanto da tecnologia”, Ilha, n. 1, n. 8, 2005 GOW, P. 1995. Creations of the rainbow serpent: polychrome ceramic designs from ancient Panama. Albuquerque, University of New Mexico Press GLOWCZEWSKI, B. Rêves en colère avec les aborigènes australiens, Paris, Plon 2004 GLOWCZEWSKI, B. Devires totêmicos, São Paulo, N-1, 2015 HALLAM, E. & INGOLD, T. Making and growing, Ashgate, 2014 HAUDRICOURT, A. Des gestes aux techniques, Versailles, Quae HEIDEGGER, M. “A questão da técnica”, Scientiae Studia 5 (3), p. 369-374 HENARE, A., HOLBRAAD, M.& WASTELL, S. (eds). Thinking throught things: theorising artefacts ethnographically, London, Routledge, 2007 HERZFELD, M. The body impolitic. Artisans and artifices in the global hierachy of value, The University of Chicago Press, 2004 INGOLD. T. The perception of environment, essays in livelihood, dwelling and skill, London, Routledge, 2000 LAGROU, Els. A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica, Rio de Janeiro, Topbooks, 2007 LEACH, J. “Modes of creativity” In: HIRSCH E. & STRATHERN, M. (eds). Transactions and creations: property debates adn the stimulus of Melanesia, New York, Bergan Books, 2004 LEROI-GOURHAM, A. Le geste et la parole, Paris, Albin Michel, 1964, 2 vols. LÉVI-STRAUSS, C. Tristes tropiques, Plon, 1955 LÉVI-STRAUSS, C. A via das máscaras, Lisboa, editorial presença, 1979 LÉVI-STRAUSS, C. Regarder, écouter, lire, Paris, Plon, 1993 LOHMANN, R. I. “The anthropology of creations”, Anthropological forum, vol. 20, n.3, 2010, p. 215-234 MALINOWSKI, M. Coral gardens and their magic, London, George Allen & Unwin ltd., 1935 MARGIOTTI, M. “Clothing Sociality: Materiality and the Everyday Among the Kuna of Panama. Journal of Material Culture, 18(4), 2013, p. 89-407 MARQUES, A. C. & LEAL, N. S. (orgs). Alquimias do parentesco: casas, gentes, papéis, territórios, São Paulo, Gramma/ Terceiro Nome, 2018 MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas e “As técnicas do corpo” In: Sociologia e antropologia, São Paulo, Cosac & Naify, 2003 MILLER, D. (ed). Material cultures: how things matter, UCL Press, 1998 OVERING, J. “A estética da produção: o sentido de comunidade entre os Cubeo e os Piaroa”, Revista de Antropologia, n. 34, São Paulo, USP, 1991, p. 7-33 OVERING, J. “Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica”, MANA 5 (1), 1999, p. 81-107 OVERING, J. “O fétido odor da morte e os aromas da vida. Poética dos saberes e processo sensorial entre os Piaroa da Bacia do Orinoco”, Revista de Antropologia, USP, São Paulo, vol. 49, n. 1, 2006, p. 19-54 PAZ, O. “El uso y la contemplación”, Revista colombiana de psicologia, 1988, p. 120-125 ROSSER, Gervase, “Crafts, guilds and the negociation of work in the medieval town”, Past and present, n. 154, 1997 SENNETT, Richard. The craftman, Yale University Press, 2008 SAUTCHUK, Carlos E. “Aprendizagem como gênese: prática, skill, individuação”, Horizontes antropológicos, 21 (44), 2015, p. 109-139 SAUTCHUK, Carlos E. (org). Técnica e transformação: perspectivas antropológicas, Brasília, ABA Publicações, 2017 SIMONDON, G. Du mode d’existence des objets techniques, Paris, Aubier, 1958 SIMONDON, G. L’invention dans les techniques. Cours et conférences. Paris, Seuil, 2005 SIMONDON, G. Imagination et invention (1965-1966), Paris, Les éditions de la transparence, 2008 SIMONDON, G. Sur la technique, Paris, PUF, 2014 TAYLOR, A-C. & DUFRÈNE, T. Cannibalismes disciplinaires. Quand l’histoire de l’art et l’anthropologie se rencontrent, Paris, INHA/ Musée du quay Branly, 2007 TSING, A. The mushroom at the end of the world, Pricenton University Press, 2015 VANDER VELDEN, F.F. Inquietas companhias: sobre os animais de criação entre os Karitiana, São Paulo, Alameda, 2012 VERNANT, Jean-Pierre. “O trabalho e o pensamento técnico” in: Mito e pensamento entre os gregos. Tradução Haiganuch Sarian. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1990 WAGNER, R. A invenção da cultura, São Paulo, Cosac Naify, 2010 WARNIER, Jean-Pierre. Construire la culture matérielle. L'homme qui pensait avec ses doigts, Paris, PUF, 1999 OBS: A bibliografia é geral e apenas indicativa. Serão escolhidos os títulos a serem trabalhados em sala de aula também em função da tradução para o português.