Trata-se de examinar, em textos diversos de Kant, o progressivo deslocamento da noção de natureza orgânica dos domínios da história natural para os de uma reflexão que esboça o que se poderia chamar, provisoriamente, de “filosofia do organismo”. Nesse trajeto, torna-se cada vez mais claro o estatuto problemático da noção de organismo, pela acentuação do contraste entre a forma orgânica apreendida pela faculdade de julgar em seu exercício reflexionante e as leis de caráter mecanicista pelas quais o entendimento apreende a experiência em geral. Por boas razões, Kant afirma na Crítica do Juízo que “jamais haverá um Newton” dos seres vivos. Resta saber em que medida, para o filósofo, uma ciência que é privada do mesmo estatuto que a física poderia progredir na compreensão do organismo como objeto tomado em si mesmo e como parte de relações que constituem um meio. O problema não diz respeito apenas à filosofia transcendental, anuncia uma miríade de questões com que têm de se haver, em nossos dias, a filosofia da ciência, a biologia ou a antropologia.
Trata-se de examinar, em textos diversos de Kant, o progressivo deslocamento da noção de natureza orgânica dos domínios da história natural para os de uma reflexão que esboça o que se poderia chamar, provisoriamente, de “filosofia do organismo”.
1) Raça, natureza e história. 2) Crítica da história natural como ciência da totalidade. 3) Um uso possível para princípios teleológicos. 4) Reflexão e finalidade. 5) Razão e teleologia. 6) A natureza como sistema.
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