A disciplina de Metodologia da História tem como objetivo central apresentar os fundamentos do conhecimento histórico e os diversos caminhos possíveis para sua construção. Nele se discutem alguns conceitos indispensáveis à prática historiadora, como os de memória, tempo, documento, verdade, causalidade, evento, estrutura, narrativa e assim por diante. Para a melhor compreensão desses elementos, o curso apresenta os debates em que eles despontaram entre os séculos XIX e XXI e que ajudaram a caracterizar as principais tradições historiográficas contemporâneas. O recorte temporal é delimitado, de um lado, pela gênese da História como um campo profissional específico no século XIX e, de outro, pelos novos horizontes de pesquisa e ensino abertos nas últimas décadas. As preocupações surgidas na modernidade em torno das possibilidades de construir um tipo de conhecimento histórico no quadro das ciências da sociedade e da cultura foram determinantes para a institucionalização da História como disciplina acadêmica no século XIX e para seu desenvolvimento no século XX. No século XXI, porém, a ascensão da cultura digital e virtual, aliada à crítica ao eurocentrismo e às noções de nação, gênero, raça e classe, produziu simultaneamente uma série de crises epistemológicas e a abertura de caminhos alternativos para o pensamento e práticas historiográficas. Ao reconstituir o percurso da disciplina, o curso pretende familiarizar as/os estudantes com os principais instrumentos de compreensão e produção do conhecimento em História elaborados nos últimos dois séculos.
A disciplina traz um conjunto de questões fundamentais para a formação do historiador. A partir de uma apresentação das principais tradições historiográficas, desde a profissionalização da disciplina no século XIX até o presente, se problematizam as discussões conceituais e a institucionalização da profissão, das práticas acadêmicas, do método crítico e das práticas arquivísticas.
De acordo com os objetivos expostos, o programa da disciplina de Metodologia da História apresenta uma série de questões que autores e tradições historiográficas discutiram, entre os séculos XIX e XXI, na formulação de conceitos e nas práticas específicas da oficina da História. As problemáticas mais abrangentes são as seguintes: A formação dos grandes paradigmas historiográficos nos séculos XIX e XX (historicismo, marxismo, Annales, estruturalismo etc.); As dinâmicas dos domínios da história (econômica, política, social, das ideias, cultural etc.); A crise das grandes tradições historiográficas da modernidade e as propostas teóricas contemporâneas; Antigas e novas experiências no tempo. A História 2.0: a historiografia digital e os dilemas do século XXI. Neste longo percurso, essas culturas historiográficas desenvolveram discussões conceituais importantes para a prática historiadora tais como: As relações entre memória e história; O tempo e suas representações históricas; As redes de causalidades, as contingências e a imprevisibilidade; O acontecimento, o fato e as estruturas; A verdade e a história; O documento e a construção historiográfica; As narrativas históricas; Finalmente, as tradições historiográficas, os conceitos e práticas historiadoras foram determinantes para: A institucionalização e profissionalização da História As práticas acadêmicas e universitárias da História A institucionalização do “método crítico” da História As práticas arquivistas: da memória de papel aos acervos digitais
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