A disciplina tem como objetivo o estudo das representações e usos da Idade Média nos séculos que se seguiram ao período tradicionalmente abarcado por aquele recorte – ou seja, do século XVI à atualidade. Partindo da formulação de Brian Stock, “O Renascimento inventou a Idade Média para se definir; o Iluminismo a perpetuou para poder se admirar; e os Românticos a reviveram para escapar a si próprios”, serão discutidas algumas das diferentes visões que se construíram da Idade Média (para além do escopo da disciplina História), suas motivações e produtos delas derivados. Serão analisadas, por exemplo, produções artísticas, arquitetônicas, cinematográficas, literárias etc, dentro do que já se denominou revivalismo, neogótico e neorromânico, neomedievalismo e, mais recentemente, medievalismo. Usamos o termo no plural, medievalismos, para enfatizar a diversidade do recorte cronológico e dos objetos de estudo – seus formatos, mídias, suportes, linguagens.
A disciplina se propõe a examinar diferentes contextos, situações e objetos em que a Idade Média é retomada e reapropriada, assumindo novos contornos, que apresentam graus diversos de proximidade com a pesquisa histórica.
1-Idade Média, Idade das Trevas: a invenção de um mito 2-Revivalismos nos séculos XVIII e XIX: neogótico e neorromânico 3-Construções e restaurações de Viollet-le-Duc: do Dictionnaire raisonné às “gárgulas” 4-Medievalismos arquitetônicos dos séculos XX e XXI: de residências a motéis 5-O medievalismo da arte pré-rafaelita 6-Walter Scott, Victor Hugo e J. R. R. Tolkien e a Idade Média recontada 7-Dos filmes de arte a Hollywood: a Idade Média representada em movimento 8-O medievalismo nas séries audiovisuais de streaming 9-O medievalismo no teatro 10-A Idade Média lúdica: dos jogos de tabuleiro aos games 11-A Idade Média branca, cristã e masculinista da extrema-direita 12-A Idade Média como commodity: das casas noturnas às reconstituições turísticas 13-Vestir-se à medieval: da moda à tatuagem 14-Rindo com (da) Idade Média: memes e cartuns 15-Medievalismo gráfico: quadrinhos, cordéis e grafites
ALEXANDER, Michael. Medievalism: The Middle Ages in Modern England. Londres: Yale University Press, 2007. ASHTON, Gail (ed.). Medieval Afterlives in Contemporary Culture. London: Bloomsbury, 2015. CAMILLE, Michael. The gargoyles of Notre Dame. Medievalism and the monsters of Modernity. Chicago: Univ. of Chicago Press, 2009. D’ARCENS, Louise. Comic Medievalism. Laughing at the Middle Ages. Cambridge: D. S. Brewer, 2014. DIDI-HUBERMAN, Georges. Diante do tempo. História da arte e anacronismos das imagens. Belo Horizonte: EdUFMG, 2015. ECO, Umberto. Dez modos de sonhar a Idade Média. In: Sobre os espelhos e outros ensaios. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991. p. 74–85. ELLIOTT, Andrew B. R. Medievalism, Politics and Mass Media. Appropriating the Middle Ages in the Twenty-First Century. Cambridge: D. S. Brewer, 2017. ______. Internet medievalism and the White Middle Ages. History Compass 16/3, p. e12441, 2018. FACCHINI, Riccardo. “I watch it for historic reasons”: Representação e receção da Idade Média em As Crónicas de Gelo e Fogo e Guerra dos Tronos. Práticas da História. Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past 5, 2017, p. 43-73. FUGELSO, Karl (ed.). Defining Neomedievalism(s) I. Cambridge: D. S. Brewer, 2010. ______. Defining Neomedievalism(s) II. Cambridge: D. S. Brewer, 2011. ______. Corporate Medievalism I. Cambridge: D. S. Brewer, 2012. ______. Corporate Medievalism II. Cambridge: D. S. Brewer, 2013. ______. Ecomedievalism. Cambridge: D. S. Brewer, 2017. ______. Medievalism and Discrimination. Cambridge: D. S. Brewer, 2019. GANIM, John M. Medievalism and Orientalism. New York: Palgrave Macmillan, 2008. GROEBNER, Valentin. Roots, Replica, Replay: European Medievalisms after 1945. Práticas da História. Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past 4, 2017, p. 113-126. GUIMARAENS, Dinah Papi; PORTO Jr., João Batista S.; CARVALHO, Marina de Vasconcellos. O medievalismo na arquitetura brasileira do século XX: o caso do Castelo de Itaipava, Rio de Janeiro. Práticas da História. Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past 10, 2020, p. 179-258. HAYDOCK, Nickolas. Movie medievalism. The Imaginary Middle Ages. Jefferson: McFarland, 2008. KAUFMAN, Amy; STURTEVANT, Paul. The Devil’s Historians. How Modern Extremists Abuse The Medieval Past. Toronto: University of Toronto Press, 2020. LEWIS, Michael J. The Gothic Revival. London: Thames and Hudson, 2002. MACEDO, José Rivair; MONGELLI, Lênia M. (Org.). A Idade Média no cinema. São Paulo: Ateliê, 2009. HARTY, Kevin. The Reel Middle Ages: American, Western and Eastern European, Middle Eastern and Asian Films. London: McFarland, 1999. HARTY, Kevin. The Holy Grail on film. Essays on the cinematic quest. London: McFarland, 2015. MATTHEWS, David. Medievalism: a Critical History. Suffolk: Boydell & Brewer, 2015. MENEGUELLO, Christina. Da ruína ao edifício. Neogótico, reinterpretação e preservação na Inglaterra vitoriana. Tese de Doutorado em História. Campinas, Unicamp, 2000. MEUWESE, Martine. The Animation of Marginal Decorations in "Monty Python and the Holy Grail. Arthuriana 14/4, 2004, p. 45-58. PAGÈS, Meriem; KINANE, Karolyn (Ed.) The Middle Ages on Television: Critical Essays, Jefferson: McFarland, 2015. PEREIRA, Maria Cristina. “O Revivalismo medieval e a invenção do neogótico: sobre anacronismos e obsessões”. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH, 2011. ______. Pixo, logo assusto; ilumino, logo seduzo: a ornamentalidade das letras na contemporaneidade e na Idade Média. Revista Arte & Ensaios 32, 2016, p. 92-101. PRENDERGAST, Thomas A.; TRIGG, Stephanie Trigg. Affective medievalism. Love, abjection and discontent. Manchester: Manchester University Press, 2018. PUGIN, Augustus Welby. An apology for the Revival of Christian architecture in England. Edinburgh: John Grant, 1895. SHIFMAN, Limor. Memes in digital culture. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 2014 SILVA, Renato Rodrigues Da. The Uses of the ‘Anglo-Saxon Past’ between Revolutions, Imperialism and Racism. Práticas da História. Journal on Theory, Historiography and Uses of the Past, n. 12, p. 129–160, 2021. SIMMONS, Clare A. Medievalism and the Quest for the Real Middle Ages. Londres: Routledge, 2015. STOCK, Brian. “The Middle Ages as Subject and Object: Romantic Attitudes and Academic Medievalism”. New Literary History, v. 5, n. 3, 1974, p. 527-547. STURTEVANT, Paul B. The Middle Ages in Popular Imagination. Memory, Film and Medievalism. Londres: Bloomsbury Academic, 2019. UTZ, Richard; SHIPPEY, Tom (Eds.). Medievalism in the Modern World. Essays in Honour of Leslie Workman. Turnhout: Brepols, 1998. VALENCIA-GARCÍA, Louie Dean (Org.). Far-Right Revisionism and the End of History: Alt/Histories: 37. New York: Routledge, 2020. VIOLLET-LE-DUC, Eugène. Du style gothique au XIXe siècle. Paris: Victor Didron, 1846.