À luz da noção de "sofrimento social", a disciplina tem por objetivo discutir os desafios contemporâneos para a saúde mental coletiva, considerando a diversidade de experiências mentais e cognitivas na História e em diferentes contextos socioculturais. Desenvolve-se uma abordagem socioantropológica da Saúde Mental a partir do conceito de estigma, ressaltando associações dinâmicas, na experiência social, entre violência, crime e contravenção, racialidade e racismo, adversidade na infância, migração, suicídio, alcoolismo e drogas. Os seminários de estudantes devem apresentar problemas e abordagens para a promoção da saúde mental coletiva, em diálogo com as perspectivas dos direitos humanos, direito à cidade e direito à loucura.
A razão e o Outro: nexos de estigma. Desafios contemporâneos em Saúde Mental Coletiva.
1 — A Razão e o Outro - nexos de estigma: - Dimensão histórico-cultural da saúde mental e diversidade de processos cognitivos - Vida mental na modernidade: narcisismo, aceleração e cansaço - Instituições e saúde mental coletiva - Nexos de estigma: integração, estratégia e subjetivação à luz da sociologia da experiência 2 — Desafios em Saúde Mental Coletiva: - A violência ordinária como força de ordem no Mundo como o conhecemos - Mundo correcional e a experiência de conflito com a lei - Racialidade e mentalidade: efeitos múltiplos do racismo nas formações sociais e na saúde mental - Racismo, subjetividade e saúde mental - Infância adversa e a violência no tecido da vida - Interculturalidade e efeitos múltiplos da experiência migratória na saúde mental - Combate, prevenção e pósvenção ao suicídio - Alcoolismo e suicídio entre povos indígenas na América do Sul - Uso, abuso e dependência de substâncias em contextos críticos: estratégia de redução de danos em Saúde Pública - Reverberações da lógica manicomial: governo da saúde mental - Direitos Humanos, Direito à Cidade, Direito à Loucura: abordagens intersetoriais para promover saúde mental coletiva
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