Tendo em vista o uso de fontes materiais na produção do conhecimento histórico, na disciplina são apresentados os paradigmas teóricos e metodológicos que orientam, nas ciências humanas, a reflexão sobre o lugar da materialidade nas relações sociais. Aos alunos são também fornecidos estudos de caso que lhes permitam identificar, na bibliografia, o modo de trabalho dos pesquisadores, bem como apropriar-se das ferramentas que os estudos oferecem, possibilitando o uso em suas próprias pesquisas.
Pretende-se apresentar os paradigmas teóricos e metodológicos que orientam, nas ciências humanas, a reflexão sobre o lugar da materialidade nas relações sociais. Apesar do significativo aumento de pesquisas relacionadas à cultura material, faz-se necessário identificar as especificidades das fontes materiais por meio de discussões epistemológicas e exercícios de análise, evitando-se o tratamento ilustrativo, periférico e de viés logocêntrico, ainda recorrente para esse tipo de documentação. Espera-se oferecer aos alunos um quadro amplo, mas seletivo, das experiências com as fontes materiais, para que, por meio delas, o aluno se sinta capacitado e estimulado a empreender sua própria pesquisa. Propõe-se como ponto de partida a análise morfológica das fontes materiais e, a partir dela, novas questões que possam levá-los a uma melhor articulação das evidências imediatas da documentação com suas implicações nos agenciamentos que tais documentos desempenharam em contextos historicamente definidos.
1. A trajetória das fontes materiais nas ciências humanas: um quadro geral dos problemas. 2. O modelo tipológico de análise do artefato. 3. O modelo estruturalista: 3.1. A influência da linguística saussuriana e da Escola de Praga. 3.2. A aplicação dos princípios lingüísticos ao estruturalismo de Lévi-Strauss. 3.3. O uso da análise estruturalista nos estudos de cultura material. 4. A busca da especificidade das fontes materiais: 4.1. A contribuição da Etologia para os estudos de cultura material. 4.2. O processo de hominização sob a ótica da materialidade e da cultura. 4.3. Os conceitos de condutas motoras, estereótipos motores, síntese corporal. 4.4. O objeto na cadeia se ações: agenciamento. 4.5. O objeto e seu programa de ação. 5. Estudos de caso (serão vistos ao longo de seminários e em aulas expositivas): 5.1. Estudos de caso de artefatos na perspectiva histórica. 5.2. Estudos de caso em situações de coleção privada e institucional. Forma de avaliação: um seminário com entrega de mapa conceitual do texto e uma prova escrita.
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