Trata-se de discutir a história da cultura popular no Brasil, tendo em vista, particularmente, o complexo de fenômenos que envolveram, entre finais do século XIX e meados do século XX, a produção e recepção de folhetos de cordel. A compreensão dos folhetos de cordel enquanto elementos da cultura popular que dialogam constantemente, e em vários níveis, com a cultura “erudita” envolve o estudo de uma multiplicidade de aspectos sociais, políticos e culturais. Ao longo do curso, procurar-se-á debater as possibilidades e limites à construção de uma perspectiva integrada desses múltiplos aspectos, com o objetivo de pensar o contexto histórico de produção e recepção dos folhetos. Nesse sentido, promover-se-á uma introdução à leitura contextualizada de um conjunto de folhetos de cordel clássicos, anônimos ou de autores como Leandro Gomes de Barros, João Martins de Athayde e Francisco das Chagas Batista.
1. Algumas discussões sobre o conceito de cultura popular2. Mediações entre o oral e o escrito: a forma do cordel3. Estrutura material, produção, circuitos, difusão no “Norte” do Brasil a partir de 18904. O problema da classificação e a construção dos Acervos de cordel5. Possibilidades de leitura e análise do cordel6. O aspecto gráfico da produção de folhetos7. O boi como símbolo8. A “matéria cavaleiresca” no cordel: intertextualidade e contratexto9. Entre a religião e a política: os folhetos sobre o Padre Cícero e a consolidação deJuazeiro como centro produtor de cordel no século XX10. O cangaço no cordel11. A História do Brasil do ponto de vista do cordel12. O cordel e a invenção do Nordeste
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